Opinião

Silenciar

Decorreu ontem de manhã a reunião de instalação do Conselho de Ilha da Terceira tendo tomado posse representantes de várias entidades e no qual os deputados regionais têm assento e, portanto, tem direito a participar (embora sem direito a voto).
Para além da tomada de posse, teve também lugar a eleição da nova mesa desse órgão presidida durante o próximo ano pelo Marcos Couto, Presidente da CCAH, que será certamente uma voz firme na defesa dos interesses da ilha Terceira.
Constava ainda da agenda a apreciação do Plano Regional para 2022, pelo que, depois de seguidas as formalidades habituais, houve lugar a apreciações críticas (positivas e negativas, mas sempre construtivas) por alguns conselheiros com destaque para o Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Destaque porque o Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, não só estudou o documento, como preparou previamente um documento síntese, que distribuiu, refletindo as preocupações do município sobre os investimentos previstos, ausentes, com dotação empolada ou insuficiente, no documento em análise.
Sobre o documento pronunciou-se ainda a CGTP, a Associação Agrícola da Ilha Terceira e a FRUTER.
Bem sei que de há muitos anos a esta parte se discute o papel dos Conselhos de Ilha, a necessidade de rever o formato, no fundo quem o integra e que competências deve ter.
Certo é que mesmo no modelo atual os Concelhos de Ilha podem e devem ter um papel interventivo, aliás como já acontece um pouco nas ilhas mais pequenas. Em São Miguel e na Terceira é evidente algum amorfismo no funcionamento que, na minha opinião, decorre da interpretação do papel e da forma como algumas instituições e conselheiros entendem a sua participação num órgão daquela natureza.
Mesmo em relação a cada uma das nossas ilhas não temos que estar todos de acordo. Uma coisa é querermos todos lutar por aquilo que entendemos ser o melhor para as nossas famílias e para as nossas empresas, para o nosso património cultural ou natural, outra coisa é estarmos de acordo. Entendo que quando isso é possível, dá força à reivindicação ou à proposta, mas havemos de convir que nem sempre é possível.
Mas acho fundamental que nos pronunciemos, que tomemos posições, sempre que possível, fortes ou reforçadas, mas, com mais ou menos consenso, importa que sejamos firmes nas nossas convicções e que lutemos por elas.
Coisa diferente ainda é, mesmo não estando de acordo com a abordagem mais ou menos crítica, estarmos disponíveis para ouvir. Saber ouvir. Bem sei que às vezes é difícil, mas chama-se "tolerar" a participação cívica e democrática e não "silenciar" a todo o custo quem porventura pensa diferente.
Nos Açores de hoje há lugar para a participação cívica e política. Quem não está habituado, habitue-se. Não estamos disponíveis para recuar.
Consensualizar não é sinónimo de silenciar.

PS - Por falar em silêncio, o silêncio de algumas entidades com assento naquele conselho e detentoras de especiais responsabilidades foi surpreendente e ensurdecedor. Resta-nos a esperança que na reunião da próxima semana com vista à emissão final de parecer sobre o Plano Regional para 2022 possamos então contar com a pronúncia de todos, devidamente preparados e imbuídos do espírito humilde e transparente que propagandeiam, na defesa dos interesses daqueles que nos elegeram.