Opinião

Apertadinho é que nunca!

Eis-nos então em pleno. Perfeita, completa e serena estabilidade governativa. Mas que tão agradável tranquilidade. Ancoradouro politicamente tão calmo e amadurecido a norte do Atlântico, que de um Pacífico diria eu se tratar. Estabilidade de tal maneira robustecida por sólidas forças da reação que alegremente, seus principais protagonistas, se vão entretendo a reagir entre si. Isso é que sim. Assim é que é ser-se um verdadeiro reacionário. Reacionário conservador, bem entendido, não defendendo o retorno a um passado próximo, claro está, mas antes ao passado de antes bem como ao seu conservadorismo, perdoada a redundância. Aquele claro contrarrevolucionário altivo, que tanto gosta do "Povo", apenas e tão só, por dele se sentir tão diferente. Humildemente diferente, está certo, peço desculpa, que daqui ninguém saia ofendido. Mas adiante. Falava eu de estabilidade governativa. Pois atenção, muita atenção, milhões de cautelas: que nenhum digníssimo contrarrevolucionário fique apertadinho em hora de arrasadora votação plenária. É que, em abono da verdade, uma ida emergente ao wc poderá mesmo significar uma vertiginosa queda de um anjo, dessa tão plural e inquebrável equipa governativa. O aliviar de uma dorzinha de barriga de apenas um poderá mesmo conduzir a uma gigantesca dor de tudo a muitos outros. Ele é vê-los amarelinhos e de gotículas na testa, fazendo e refazendo mil e uma contas de somar. Melhor dizendo, mil e uma contas de sumir, talvez esteja mais correto.
Então os bolseiros dos mestrados na área da formação de docentes quando, pelos motivos previstos, tenham mesmo que devolver as verbas já recebidas, fá-lo-ão devolvendo uma vez e meia o recebido, como pretendem os partidos de suporte ao governo, o valor apenas acrescido de juros à taxa em vigor, como propõe o PS ou, simplesmente, a exata medida do recebido, como defende o BE? Resposta dependurada até qualquer dia. Talvez a primeira, apenas, desta nova conjuntura, dependurada. É que um senhor deputado das arrasadoras forças da reação não se encontrava por ali naquela tão duvidosa horinha (aliás, há muito que até já nem lá estava) e eis um diplomazinho aprovado sem a totalidade de suas peças constituintes. Eu até era homem para sugerir ao Senhor Presidente da Assembleia que, doravante, os trabalhos se pudessem desenrolar ao contrário do previsto. Começaríamos por contar os votos, garantindo-se a presença de todos os indispensáveis e então depois passar-se-ia ao debate sem quaisquer constrangimentos como aqueles que uma dorzinha de barriga poderá causar. Assim como assim, tudo tem mesmo de se apresentar previamente combinadinho - não esquecendo o laçarote - interessando absolutamente para nada a razão inequívoca, aquela que, em aceso debate, poderá eventualmente ter ficado claramente exposta.
Fica então a ideia. Apertadinho é que nunca!