Opinião

Um powerpoint com odor a outros tempos

O senhor coordenador regional de saúde pública, Dr. Gustavo Tato Borges, está a precisar de férias. Só o cansaço pode explicar as últimas aparições públicas do Dr. Tato. À sobranceria de algumas respostas que vinha a dar, semanalmente, nas conferências de imprensa que servem para fazer o ponto de situação relativo à pandemia, seguiu-se a estridente gargalhada no debate promovido pela RTP-Açores quando estava no uso da palavra o Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, Dr. Ricardo Rodrigues, e no preciso momento que este referia factos (números e percentagens) relativos ao combate à pandemia na ilha de São Miguel. A gargalhada do Dr. Tato, mais do que a sobranceria das conferências de imprensa, já mostrava aversão à crítica e desprezo por todos aqueles que – com total legitimidade – colocam em causa os procedimentos e decisões políticas que têm vindo a ser aplicadas a toda a ilha de São Miguel. Mas, e como se isto já não fosse demasiado grave, assistimos na passada quinta-feira (29 de abril), na conferência de imprensa semanal, através de um powerpoint, a um ato de censura perante um órgão de comunicação social. O sinal de proibido colocado junto ao título de uma notícia publicada pelo jornal Açoriano Oriental é inaceitável. Nem mesmo o enorme cansaço, que reconheço estar associado às funções que temporariamente desempenha nestas “ilhas adjacentes”, justificam a ousadia de querer impor uma espécie de cartilha aos órgãos de comunicação social. Uma imprensa livre e independente é essencial à Democracia. A liberdade e independência não comporta mordaças e muito menos sinais de trânsito. A inusitada e despropositada comunicação do Dr. Tato mereceu repúdio generalizado dos democratas Açorianos. O ataque ao Açoriano Oriental não é apenas dirigido aquele prestigiado diário Açoriano. É um sinal, um aviso, a toda a comunicação social. Por isso, justifica plenamente que se critique, com veemência, o Dr. Tato. Vai daí, associo-me e solidarizo-me com o Diretor do Açoriano Oriental. O editorial, assinado por Paulo Simões, é subscrito por todos os democratas. O mencionado editorial, que tem por título “O Censor”, refere logo a abrir que “A reportagem, publicada no passado dia 26, não critica as medidas do governo, mas faz o que uma boa reportagem deve fazer – dá voz ao povo, algo com o qual o coordenador regional de saúde pública parece dar-se mal, talvez preferindo uma comunicação social simpática e ao seu serviço. Desengane-se caro Tato Borges, o Açoriano Oriental não está e nunca estará ao seu serviço nem de quem o tutela.” E continua, logo de seguida, dizendo que “Há 186 anos que este jornal serve os açorianos e as suas causas, serve o jornalismo, serve a pluralidade de opiniões e ideias e luta pela liberdade de imprensa, algo que parece incomodar o senhor Coordenador regional.” E acrescenta, em seguida, “Invocar uma reportagem do AO para punir o jornalismo feito nos Açores, para além de soar a Censura, leva a outras considerações: a desastrosa comunicação que este governo tem tido e, em particular, na área da saúde de que o caos na vacinação no passado fim de semana é apenas o exemplo maior. Gustavo Tato Borges desrespeita não apenas o Açoriano Oriental, desrespeita os jornalistas e a comunicação social açoriana que mais não faz do que o seu trabalho.” Noticiar a realidade não é uma crítica. Chama-se jornalismo. Por muito que uns poucos não aceitem…