Opinião

Rir nem sempre é o melhor remédio...

É costume dizer-se que rir faz bem à saúde e que em determinados casos, rir será mesmo o melhor remédio.
Existe algum fundamento científico para a afirmação de que rir fará bem à saúde.
Existem estudos que apontam que através da gargalhada o organismo liberta substâncias químicas benéficas, que nos fazem sentir bem, como por exemplo, a serotonina, um antidepressivo natural, para além de endorfinas, as chamadas hormonas do bem-estar, bem como também faz descer o cortisol, conhecida como a hormona do stress.
Nos dias de hoje, em que de tudo um pouco se faz ofício, existem atualmente profissionais do riso que enfrentam ainda alguma estranheza de grande parte da população quando esta se recorda da expressão: "muito riso, pouco siso...".
Vivemos dias ainda pouco primaveris, que na ascensão latina da expressão dada à estação do ano nos deveria remeter para um primeiro verão, com sol, calor e maior transparência no firmamento com uma visão mais clara sobre o horizonte.
Entre risos e gargalhadas, por vezes inusitadas, eventualmente típicas da estação, temos invariavelmente dias em que a nebulosidade e a pluviosidade nos causam alguma indignação.
Assim é também e, ainda, com o processo de vacinação relativamente à COVID-19.
Já se sabe que o processo não começou bem na Região Autónoma dos Açores e, diz a sabedoria popular, que "o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita".
Infelizmente, existe fundamento para dar momento a essa expressão popular.
Desde logo com a elaboração, publicação e divulgação do Plano Regional de Vacinação.
Datado de 30 de dezembro, mas não publicado nessa data, com o processo de vacinação a iniciar-se no dia seguinte, proporcionou-se um contexto para situações por esclarecer relativamente a vacinações ocorridas fora do âmbito do escrito e determinado no referido plano.
Para procurar justificar-se, o Secretário Regional da Saúde e do Desporto, por sua iniciativa, disponibilizou-se para ser ouvido na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, audição essa que se realizou a 19 de fevereiro.
Na referida audição, o Secretário Regional da Saúde e do Desporto frisou a importância do processo de vacinação, afirmando que estamos "perante um processo que tem que ser o mais transparente, objetivo e credível possível".
Durante a mesma audição o titular da pasta da saúde, consultando documentação que tinha em sua posse, afirmou que decorrente do imbróglio com a publicação e divulgação do referido plano, "surgiram algumas dúvidas de interpretação, algumas questões que foram sendo permanentemente esclarecidas através quer de comunicações eletrónicas, quer de telefonemas, com as instituições em causa, com as unidades de saúde de ilha".
Mais acrescentou que "as várias entidades, desde o início de dezembro, foram sendo contactadas, quer por email, quer por telefone, informando dos critérios da vacinação", tendo sido enfático no esclarecimento de questões que diariamente eram colocadas à Autoridade de Saúde e ao próprio Secretário Regional, desde meados de dezembro, afirmando que tinha consigo vários e-mails com a identificação das comunicações que sucessivamente foram sendo feitas, especificando datas e horas, reforçando que a ação orientadora da tutela, bem como da Autoridade de Saúde, não se restringia às circulares normativas.
Nesse sentido, os deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista presentes na referida Comissão, indo ao encontro da disponibilidade e do preconizado pelo Secretário Regional relativamente à transparência, objetividade e credibilidade do processo, solicitaram o envio da correspondência trocada entre a tutela e as Instituições Particulares de Solidariedade Social/ Santas Casas da Misericórdia dos Açores.
Diz também a sabedoria popular que de "boas intenções está o inferno cheio" e da tão propalada transparência, objetividade e credibilidade, ficámos, mais uma vez, pela intenção.
Já não bastava o imputar de responsabilidade à população micaelense pelos números de casos positivos de COVID-19 na Região, o imputar de responsabilidade às Instituições Particulares de Solidariedade Social/ Santas Casas da Misericórdia dos Açores pelas "confusões" com a administração de vacinas, tendo inclusive sido determinado um processo de inquérito cujas conclusões tardam em ser conhecidas, da documentação que o titular da pasta da saúde tinha em sua posse e que da sua tutela assumiu autoria e fez uso na referida audição, vem esta segunda-feira o Governo Regional transmitir que é correspondência alheia e, por essa via, não a pode partilhar e, consequentemente, violar...
Adicionalmente, tendo-se vindo a procurar imputar responsabilidades ao Governo da República por não enviar vacinas em número suficiente para a Região, sabemos afinal que a "confusão" na administração de vacinas permanece, vindo esta semana novamente a público relatos de inoculações a pessoas que não estavam incluídas na primeira fase do plano de vacinação...
Quase que dá a entender que afinal há vacinas e, no fundo, parece é que a tutela ainda não sabe concretamente as prioridades relativamente a quem as administrar, sendo lesta, contudo, na determinação de nova abertura de processo de inquérito no espírito de "a responsabilidade tem de ser de todos, menos da tutela"...
Na verdade, no meio de todas estas situações pouco claras, se para alguns até poderá dar vontade de rir, a verdade é que nem sempre rir faz bem à saúde e nem sempre rir é o melhor remédio...