Opinião

Um Presidente citador

Os discursos de encerramento do plano e orçamento são sempre momentos de elevado interesse político. Este ano, dado o figurino parlamentar, esse interesse ainda era maior. Principalmente, no que dizia respeito à intervenção do Senhor Presidente do XIII Governo dos Açores. Pois bem, em nome da verdade, tenho de dizer que foi uma enorme desilusão. O discurso, cuja duração ultrapassou os 35 minutos, foi, quase na íntegra, para consumo interno. Isto é, a preocupação do Senhor Presidente foi distribuir “rebuçados” pela manta de retalhos, a qual conta (?) agora com o PAN, através da citação de excertos de cada um dos líderes parlamentares. Estes, embevecidos com a música que estavam a ouvir, curvavam-se com o olhar perante tão significativo momento. Bolieiro sabe, melhor do que ninguém, o que estava na génese de tão sui generis momento parlamentar. A sobrevivência política obriga a momentos destes. Sobrevivência essa que, na dialética erudita do Presidente do Governo, é apenas humildade democrática. Não, não é! Todos sabemos que não é. E aqui estaremos para, a seu tempo, demonstrar a visão democrática que corre nas veias da maioria dos partidos da coligação. Mas as citações do Senhor Presidente, retiradas da cartola como tentativa clara de uma demonstração para o exterior de uma falsa união interna, não se ficaram pelos parceiros que suportam parlamentarmente o XIII Governo dos açores. Houve também tempo para dar a ideia de que a simbiose é perfeita entre os membros do Governo. E como foi isso feito? Através de citações. Muitas citações. Não fosse este o maior Governo da história da Autonomia. No entanto, nem todos os membros do Governo foram obsequiados com a honra da citação do líder do executivo. Terá isso algum significado? Será que se pode extrair alguma conclusão? Por exemplo, não houve citação de nenhuma frase ou expressão proferida pelo Senhor Secretário Mota Borges. Até pode ser mera coincidência, mas, à cautela, sugiro que este não demore muito a fazer a mala. É que, ao que parece, até já há uma lista de putativos sucessores. Só não consegui apurar se a lista já foi remetida para a (vice) Presidência. Mas não foi só o Senhor Secretário dos Transportes, Turismo e Energia que ficou esquecido nas muitas páginas do discurso do Presidente do Governo. E essa omissão causou muito desconforto. Aguardemos os próximos capítulos. Com tranquilidade. A remodelação, falada baixinho em determinados sítios, só ocorrerá – salvo algum caso de força maior – após as eleições autárquicas de outubro. Até lá, com humildade e muitos sorrisos, estará tudo bem. Mesmo que alguns governantes se limitem a meros atos de gestão corrente. Voltando ao discurso do Senhor Presidente, ainda houve tempo para mais um par de citações. Umas do citador.pt e outras do pensador.com. O que não houve lugar, em mais de meia hora de discurso, foi para uma palavra de esperança, de confiança, de futuro. Os Açores ficaram para uma próxima oportunidade. Infelizmente, a tónica é interna. Já que só assim sobreviverão no poder… Mas sempre com a humildade na ponta da língua, algumas saídas estratégicas de cena e, claro, muitas citações de quem está dentro do barco. Mesmo que o barco não trace rumo…