Opinião

Pela boca morre o peixe... Parco Tato... Muito Parco Tato...

A propósito das medidas tomadas para conter a propagação do vírus SARS-CoV-2 em eventos públicos realizados na Região, afirmou José Manuel Bolieiro em agosto de 2020:
"A minha opção, ontem como hoje, é que mais vale sermos excessivos na prudência do que negligentes na ação. Infelizmente tem-se assistido a muitas incoerências e incongruências em algumas medidas tomadas. Deixo este juízo à própria população."
Nas últimas semanas tem-se verificado um aumento exponencial de casos de COVID-19 na Região associados à variante inglesa do vírus SARS-CoV-2.
A 14 de dezembro de 2020 as autoridades do Reino Unido reportaram à Organização Mundial de Saúde que uma nova variante do vírus havia sido identificada através de sequenciação genética. Numa análise retrospetiva foi possível rastrear o primeiro caso até 20 de setembro de 2020 em Kent, em SouthEastEngland.
Cinco dias após a identificação desta nova variante, as autoridades do Reino Unido anunciaram que as áreas afetadas seriam sujeitas a restrições de modo a conter a disseminação do vírus.
Na Região, o primeiro caso da variante inglesa do vírus SARS-CoV-2 foi comunicado em janeiro, tendo sido identificado num passageiro que chegou no final de dezembro à cidade da Horta, na ilha do Faial.
Cerca de um mês depois dois novos casos foram confirmados, um na ilha Terceira e outro na ilha de São Miguel.
Quando questionados em audição na Comissão de Assuntos Sociais, realizada a 14 de janeiro de 2020, relativamente às medidas complementares de intervenção e combate a esta nova estirpe que estariam a ser desenvolvidas, o Secretário Regional da Saúde e Desporto afirmou:
"Os laboratórios que estão a ter um trabalho imenso e permanente identificaram anomalias, isto é, situações anormais em oito testes. Esses oito testes foram enviados para o Instituto Ricardo Jorge e desses oito testes há um teste que comprova que há a nova variante na ilha do Faial. Este teste é relativo a um passageiro, a cadeia foi isolada, identificada e não há propagação desta situação na ilha do Faial."
Por sua vez, o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia por COVID-19complementou:
"Portanto, estamos confiantes de que essa estirpe não circula na Região Autónoma dos Açores."
Cerca de um mês depois, o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia por COVID-19 garantia à comunicação social que as medidas em vigor na altura na Região estavam "a cumprir com o seu efeito" e que a situação então estaria "calma", com o número de casos ativos a baixar nos Açores.
Só na passada semana, numa contínua falta de rigor e de transparência nos comunicados diariamente emitidos, é que foi transmitido que dos 114 casos existentes 96 se referiam à nova estirpe.
De 3 casos registados em fevereiro passamos para 96 em março.
Não obstante, passados cerca de dois meses e meio do registo do primeiro caso da variante inglesa na Região é que os critérios clínicos foram atualizados para contemplar os sinais/ sintomas associados à nova estirpe.
Cerca de dois meses e meio.
Isto quando se apela à responsabilização do comum cidadão.
Isto quando se afirma que o aumento de casos estará associado ao facto de a população ignorar sinais e sintomas.
O que é facto é que a população não ignorou.
É caso para perguntar: o que é feito da tão propalada pedagogia e guiões para população e profissionais de saúde?
Não se sabe. É como o Presidente do Governo: ninguém sabe dele.
É mais fácil responsabilizar o comum cidadão e, mais recentemente, responsabilizar o Governo da República pelo não envio de vacinas nas quantidades desejáveis.
O que se poderia ter feito melhor? poder-se-á perguntar.
O que de melhor se podia ter feito na gestão da Pandemia e relativamente à contenção da disseminação e propagação da nova estirpe era tão apenas e só cumprir com o que se havia proposto. E não foi por falta de chamada de atenção.
Recordando as palavras de José Manuel Bolieiro (de quem corremos o risco de nos esquecermos da sua feição dada a sua longa ausência):
"A minha opção, ontem como hoje, é que mais vale sermos excessivos na prudência do que negligentes na ação. Infelizmente tem-se assistido a muitas incoerências e incongruências em algumas medidas tomadas. Deixo este juízo à própria população."
Se for para deixar o juízo à população, já nos diz o ditado popular: Pela boca morre o peixe...
Ao invés de excessivos na prudência temos parco tato... muito parco tato...