Opinião

Malabarismo de ma(ss)as no apoio à Cultura

A atividade cultural é hoje mais do que determinante para a atividade turística. Parece-me inquestionável. E não apenas por cá, nos Açores, mas no mundo. É um argumento forte, não valendo assim tanto pelo exclusivo facto de o ser, na verdade, mas porque auxilia na transparência da sua imperiosa mais valia, isto como se todos os demais argumentos não bastassem. Tem então o governo regional, obviamente, a inadiável obrigação de apoiar também todos aqueles que nesta área trabalham, ou melhor dizendo, gostariam de trabalhar, porém a tal impedidos, apoios extraordinários próprios destes tempos pandémicos que vivenciamos como naqueles outros que se aproximarão, esperando todos nós que muito breve. Porém, perplexo fico, é verdade, apelidado que foi, e tão bem, pela própria Sra. Secretária da Cultura, Ciência e Transição Digital de "as suas perplexidades, Sr. Deputado...!". Eis mais uma perplexidade das minhas: como é possível, então, o atual governo assumir-se como o baluarte dessas mesmas preocupações quando aquilo que propõe, até hoje, não passa de uma Resolução do Conselho de Governo esvaziada de propósito? Sem entrar em aprofundadas e, por consequência, aborrecidas explicações técnicas, há que dizer que o diploma em referência deixará parte dos desprotegidos completamente excluídos, como será disto exemplo todas (e tão só!) as empresas do sector. Por outro lado, esta Resolução do Conselho de Governo vai beber à fonte orçamental já enquadrada no atual Regime Jurídico de Apoio às Atividades Culturais, ou seja, a fundos já pré destinados exatamente aos mesmos...e mais, como se tal não fosse suficiente, também o mesmo diploma deixa claro de que estes apoios estarão condicionados à existência de disponibilidade financeira na referida dotação, sabendo nós que, inclusivamente, esvaziada está ela já. Acrescente-se ainda, balizado, cercado pelo impedimento de ser acumulado com outros apoios destinados à área. Resumindo e concluindo: de que serve a Resolução? A verba é precisamente a mesma verba há muito prevista para o sector, dá-se tirando do saco que já era seu, e depois a tal, também a mesma que já não existe! Mas que belo malabarismo!... Rodam as ma(ss)as circenses nas hábeis mãos malabaristas e, tanto o mero espectador como o principal interessado, completa e ingenuamente baralhados. Poucos, contra a sua própria vontade, conseguirão não perder o objeto de vista. E mais, entende a Sra. Secretária da tutela que a proposta apresentada pelo partido socialista é excessiva. Excessiva...? Excessivo apoiar as percas de faturação até dois mil e quinhentos euros ou dez mil euros, pessoas singulares ou coletivas, respetivamente, quem há muitos meses desespera por não ter como colocar o pão na mesa?! Excessiva, pois claro, depois do que apresenta, todas as demais serão obviamente excessivas. Serão demasiado abrangentes, calculo, as verbas propostas serão demasiado elevadas, evidente, estará errado em não esgravatar no fundinho (vazio) do mesmo saco, certamente, também mal por não limitadas à sua própria existência, por não serem cumulativas, etc., etc., tudo isto mal, lá está, e já agora porque não esquecerão o futuro próximo, que previsivelmente mais risonho - só poderá mesmo! -mas, ainda assim, não se augurando nada fácil. Enfim, Sra. Secretária... pois certo estará em apoiar, exclusiva e seriamente, o malabarista das ma(ss)as, claro que sim, escolhido um que tão bem saiba trocar os olhinhos todos à malta.