Opinião

Fantoches fascistas

Esta crónica é um bocado de história à minha maneira. Para além disso, é um compromisso pessoal na defesa daquilo em que eu acredito que o nosso País e a nossa Região devem ser enquanto sociedade. Uma defesa da nossa República e da nossa Democracia. Uma defesa que, não terminou em abril de 74.

Quase meio século depois, engane-se quem naquele dia ou hoje, deu ou dá por garantida a liberdade eterna do povo português. O que aconteceu naquele dia foi a quebra de um regime, não foi a quebra de um pensamento nem dos ideais que eram defendidos por quem representava aquele regime e que resistiram até ao fim por um sistema ditatorial e fascista.

Eles não desapareceram, nem em Portugal nem no mundo, e intransigentes como sempre foram na sua atuação, nunca perderam o contato entre eles.

O que nós vemos hoje em Portugal é resultado desses contatos. Eles nunca aceitaram, que o melhor para Portugal era um povo livre. Para eles o povo português era demasiado estúpido para ter capacidade de decisão sequer na sua própria vida. Só alguns podiam ter esse poder: aqueles a quem chamam de “portugueses de bem”, os outros não interessaram naquele regime, e voltam a não interessar no novo regime que pretendem.

O que foi sendo preparado por eles, e que em alguns momentos fomos ignorando, está à vista. Não nos esqueçamos que movimentos desses tentam vingar no Mundo de há uns tempos para cá e nem foi muito longe daqui. Parece-vos contraditório ver a francesa Le Pen e o português Ventura juntos a apoiarem-se, enquanto defendem que os seus países se devem fechar em si mesmos? Não é! É um Estado nacionalista que eles defendem e para eles não há cá misturas, a não ser que sejam eles e mais ninguém. Percebem? Pois, é isso mesmo: para eles o povo é quietinho, sossegado e sem chatear muito. Aliás, dizem alguns: “estávamos tão bem antes!”. Pois é, quem viveu o antes e o depois de 74 sabe bem e tem a obrigação moral de informar os mais novos, que quem estava bem eram eles, os tais “portugueses de bem”, os que tinham os direitos sem deveres porque os outros, os que não eram de bem tinha um só direito: o de contribuírem calados.

Engane-se quem acha que quem vota no Chega é fantoche, quem vota no Chega vota em consciência e tem os seus motivos, sejam eles quais forem. Os fantoches aqui são mesmo os líderes destes movimentos. Eles é que são os fantoches portugueses daqueles que nunca quiseram uma República Democrática em Portugal. Esses, num espírito de vingança, encontraram a sua oportunidade em interlocutores suficientemente estúpidos para lerem o novo guião fascista.

 

(Crónica escrita para Rádio)