Opinião

Encruzilhada

O quadro político português está numa verdadeira encruzilhada. Comecemos pelo centro esquerda. O Partido Socialista, maior força partidária na Assembleia da República e líder em todos os estudos de opinião, não consegue chegar à maioria absoluta. Aliás, está muito distante desse objetivo. É isso que resulta expresso na sondagem, feita para a RTP, pelo centro de estudos da Universidade Católica (CESOP). Esta sondagem, realizada no dia das eleições Presidenciais, atribui 35% ao PS; 23% ao PSD; 9% ao Chega; 8% ao Bloco de Esquerda; 7% à Iniciativa Liberal; 6% à CDU; 2% ao CDS-PP; 2% ao PAN e 1% ao Livre. É certo que a maioria continua a votar à esquerda, mas isto não pode ser visto como mera aritmética. Estamos no domínio da política. O PAN, aparentemente, é um partido de esquerda. Mas isto não é uma verdade absoluta. O BE é de esquerda. Uma esquerda, cada vez, mais esquerda. E isso tem acentuado a clivagem com o PS. O BE parece caminhar para um regresso às origens, isto é, para a oposição pela oposição, pelo caráter antissistema e, consequentemente, para voltar ao isolamento de quem vê o mundo por um prisma muito próprio e único. O PCP continua em queda. A candidatura de João Ferreira – putativo sucessor de Jerónimo de Sousa – não mereceu a adesão que se esperava. Nem mesmo o maior orçamento da campanha presidencial (750 mil euros!) permitiu almejar um resultado menos desolador. O resultado, em termos de votação, foi até inferior ao de Edgar Silva, que em 2016, obteve mais cerca de 3 mil votos… Perante este cenário, e com a previsível queda do PS face ao inevitável desgaste causado pelos efeitos da pandemia, temos um quadro à esquerda muito complexo e que exigirá muita serenidade, capacidade de diálogo e assertividade nas decisões que terão que ser tomadas nos próximos tempos. Se este é o cenário à esquerda, à direita a “coisa” não está nada melhor. Antes pelo contrário. O PSD, na liderança de Rio, tem sido uma autêntica desilusão. O maior partido da oposição nunca conseguiu ser visto como real alternativa. Rui Rio, cujo estilo errático é difícil de compreender, nem o partido conseguiu unir. Suspira-se, por aqueles lados, com cada vez maior intensidade, pelo regresso de Pedro Passos Coelho. As facas começam a afiar-se perante um expetável desaire eleitoral nas próximas autárquicas… O CDS-PP está, infelizmente, em vias de extinção. O partido do táxi, após ter ouvido a surreal reação de Francisco Rodrigues dos Santos à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, caminha paro ser o partido da mota ou… da trotinete! A Iniciativa Liberal, por sua vez, está a aproveitar o desmoronamento do CDS-PP e os ziguezagues ideológicos do PSD de Rio e, assim, aumentará substancialmente a sua representação parlamentar. Por fim, temos o “fenómeno” Chega/Ventura. E aqui está o problema da direita (centro-direita). O PSD profundo já percebeu que só voltará ao poder, nos próximos tempos, dando a mão a André Ventura. No fundo, repetindo a fórmula dos Açores. A tal fórmula que tem a assinatura de Rio. Agora parece querer esconder a mão. Este “toca e foge” terá, obviamente, uma única consequência: o crescimento do Chega. Será essa solução para sairmos da encruzilhada? Espero bem que não…