Opinião

2020

Responsabilidade - Clélio Meneses, Secretário Regional da Saúde, referiu-se a Tiago Lopes como “alguém que foi responsável pelas 12 mortes no Nordeste”. Uma acusação destas não é, certamente, feita de ânimo leve por um membro do Governo, ademais quando se trata de alguém que é, de profissão, advogado e sabe bem o significado da expressão que utilizou. Quem exerce funções governativas não pode fazer afirmações gratuitas e para as quais não tenha o necessário fundamento. Pelo que eu, enquanto cidadã e açoriana, aguardo as explicações do Senhor Secretário ou a sua retratação. Se eu exercesse as funções de presidente da Comissão de Acompanhamento da Luta contra a Pandemia nos Açores, como é o caso de Gustavo Tato Borges, e para usar uma expressão popular, colocava já as minhas barbas de molho. Sabemos que, a existir a infelicidade de uma morte de um utente de uma instituição de apoio a idosos na sequência de infeção por COVID 19, o Senhor Secretário responsabilizá-lo-á, imediatamente, pelo triste acontecimento. Sem apelo nem agravo. Mas Tato Borges é um homem dedicado e empenhado e aceitará, certamente, tal responsabilidade com a mesma abnegação com que se declarou disponível para apoiar os açorianos e verificar in loco as condições de trabalho num estabelecimento de diversão noturna de Ponta Delgada associado a um surto de COVID 19. Ah… na altura ainda não tinha sido nomeado.

Um estudo do Canadian Institute for Health Information, de junho deste ano e referente ao impacto da primeira vaga da pandemia, dava conta de que as mortes na sequência de infeção por COVID 19 em lares de idosos representavam 81% do total de mortes ocorridas no Canada. Vale, também, a pena ler os estudos que a insuspeita The Lancet tem realizado sobre o impacto da COVID 19 em equipamentos residenciais para idosos. Facilmente percebemos que, nos Açores, com Tiago Lopes como autoridade regional de saúde, conseguimos contrariar aquela que foi uma tendência mundial de enorme impacto da pandemia nestas respostas sociais.

Cicatrizes - A pandemia foi, tristemente, o grande marco do ano de 2020 e as suas cicatrizes perdurarão na vida de milhões de pessoas, mesmo que a esperança que as vacinas representam se concretize numa vitória da humanidade perante este terrível inimigo. A solidão dos idosos nos lares, privados do convívio e do carinho dos seus. O desespero de todos quantos viram os seus rendimentos subitamente reduzidos ou que enfrentaram e enfrentam o desemprego. A angústia dos empresários. A desilusão de tantos jovens cujos sonhos de realização académica ou profissional foram interrompidos. A dor das crianças e das mulheres em casa, à mão dos agressores. A tristeza, não menos complexa, da perda do convívio, da mudança de rotinas e de hábitos de vida. Em todos os continentes olhamos com perplexidade para o que nos aconteceu. Aos efeitos imediatamente visíveis na economia e no emprego, acrescerão os efeitos de longo prazo na saúde física e mental, nas relações pessoais e no funcionamento das comunidades que não podemos agora avaliar. Mas, certamente, ouviremos falar disto no futuro.

Direitos humanos – A pretexto da pandemia temos assistido, em países membros da União Europeia, ao agravamento de medidas que colocam em crise profunda o Estado de direito. O problema não é de hoje e, apesar dos procedimentos abertos pela União, as ameaças à democracia e as violações dos Direitos Humanos agravaram-se. Os valores europeus estão em perigo e o Estado de direito está seriamente ameaçado. Olhemos, ainda, para os milhões de refugiados e para as condições desumanas em as suas vidas se suspendem. A Europa humanista tem que fazer mais e melhor.

Apesar de tudo, Feliz Natal!