Opinião

O tabu de Marcelo

No dia 24 de janeiro de 2021 teremos eleições presidenciais. Não parece, mas é verdade. A menos de um mês da data limite para a apresentação junto do Tribunal Constitucional das candidaturas, conforme decorre da Constituição da República Portuguesa e, consequentemente, da Lei Eleitoral do Presidente da República, o atual Presidente decide manter um ridículo tabu. O que diria Marcelo, nas vestes de comentador, desta atitude do Presidente Marcelo? Tenhamos sempre presente que o Presidente da República, nos termos da Constituição, “representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas.” Portanto, não estamos perante uma eleição para uma qualquer agremiação cultural ou desportiva. A eleição presidencial é, apenas e só, o ato eleitoral para o cargo e função mais importante do País. Neste sentido, a postura de campanha permanente ao longo destes últimos 5 anos que Marcelo adotou não é compatível com este tabu dos últimos meses. Num tempo de grandes incertezas originadas por esta terrível pandemia, não se compreende, nem se aceita, que o Presidente Marcelo, outrora qual “Lucky Luke” a chegar aos locais mais recônditos onde o esperava uma câmara de televisão, tenha decidido, de forma extremamente pensada e muito ponderada, arrastar o anúncio da sua inevitável recandidatura. E então, qual será a razão para Marcelo anunciar o mais tarde possível a decisão que todos esperam? A resposta, para mim, é obvia. Trata-se, objetivamente, de puro calculismo e tacticismo político. Marcelo sabe, perfeitamente, que o tempo corre a seu favor. Marcelo vai continuar, até o mais tarde possível, a assistir, nos sofás do Palácio de Belém, às tiradas racistas e xenófobas do candidato Ventura sobre os candidatos já assumidos e sobre todos os que não são portugueses “puros”, de raça caucasiana e de pensamento político igual ou muito próximo do seu. Marcelo, como não quer ir para pré-campanha e até vai voltar a abdicar da “poluição visual” dos outdoors, sabe que parte com muitas voltas de avanço e que ir para o terreno não lhe trará grandes dividendos. Antes pelo contrário, uma vez que o terreno o deixará em “pé de igualdade” com os demais concorrentes. E Marcelo não quer isso. Marcelo prepara-se para cumprir os mínimos dos mínimos. Excetuando os debates televisivos, não vislumbro outras oportunidades para o confronto político entre candidatos. Infelizmente! Espero, sinceramente, é que Marcelo não se refugie em qualquer teoria rebuscada para justificar a sua presença num único debate. Daqueles que de debate têm muito pouco. O eleitorado merece ser respeitado. E o respeito, em períodos eleitorais, faz-se com debates, esclarecimentos, opiniões e muito escrutínio aos programas, projetos e ideias dos candidatos em jogo. Marcelo, ao esquivar-se a tudo isto até ao mais tarde possível, está a dar um péssimo contributo à democracia. Marcelo, com a inteligência e habilidade política que todos lhe reconhecem, devia aproveitar todo o tempo possível para defender, com toda a veemência, o Estado de Direito Democrático, os princípios fundamentais da liberdade, igualdade, solidariedade, respeito pelas minorias, entre outros. Marcelo, ao resguardar-se e prolongar um tabu “com rabo de fora”, apenas está a dar palco a quem aspira ficar em 2.º lugar. Lamentavelmente!