Opinião

Obrigado, bola.

22 de junho de 1986. Cidade do México. Quartos-de-final do Campeonato do Mundo. Um jovem, com 25 anos, e que ostentava a camisola 10, pegou na bola ainda dentro do seu meio campo e… ficou imortal. Aquela corrida louca, sentando todos os ingleses que apareceram pela frente, é a pintura mais genial que alguém ousou fazer num campo de futebol. De sempre e para sempre. Naquela tarde, perante um sol radioso, aquele jogador de 1,65 m, de nome Diego Armando Maradona, adquiriu um estatuto ímpar no futebol e no desporto. Mesmo os que conheciam bem o seu percurso, no qual pontificava o título de campeão no mundial Sub 20 em 1979 e o prémio de melhor jogador (bola de ouro) nessa prova, na qual, provavelmente, foi dado o primeiro sinal ao mundo que aquele pé esquerdo vinha de outro planeta, estavam longe de imaginar que o Olimpo lhe estava reservado. Nesse mundial, com apenas 18 anos, pegou na batuta e levou a sua amada Argentina à vitória nos 6 jogos disputados. Marcou golos em 5 desses 6 jogos. Acresce que tal desempenho ocorreu, relembre-se, cerca de um ano após “o murro no estômago” que representou ter ficado fora do mundial de 1978 (na Argentina e ganho pela Argentina). Os fãs de futebol ficaram, desde logo, de olho no miúdo pequenino e franzino que fintava os adversários, assistia e fazia golos com uma alegria, facilidade e simplicidade notáveis para a idade. 7 anos volvidos, já com o estatuto de ídolo no Nápoles, chega ao México com os holofotes todos sobre si. Maradona nunca foi apenas um jogador de futebol. Um génio nunca é apenas só aquilo que faz na sua profissão. Maradona, que segundo o próprio se não fosse futebolista seria revolucionário, foi o primeiro jogador a ganhar escala e dimensão planetárias. Essa escala, no México, deixou de ser mensurável. Maradona, após o jogo com a Inglaterra, passou para outra dimensão. Nesse jogo, antes do “golo do século”, marcou um golo com a mão, o qual ficou conhecido como a “mão de Deus”. Mas, por alinhamento dos astros que decidiram homenagear o Astro Maior, 4 minutos depois da maldade feita a Peter Shilton, Maradona recebeu a “assistência” mais famosa do mundo e… o resto é história. O mundo, boquiaberto, assistiu a um “tango” inolvidável. O jornalista argentino Víctor Hugo Morales, no relato mais inesquecível desse lance, perguntou em lágrimas: “de que planeta vieste, Diego?” Nunca ninguém saberá a resposta… Para terminar, fica a explicação do título deste texto. Trata-se da inscrição que Maradona disse, num programa de TV em que se entrevistava a si próprio, querer na sua lápide. E também disse, noutra ocasião, o seguinte: "quando morrer quero voltar a nascer e quero ser futebolista. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona." Da minha parte, que voltei a chorar tal como havia feito aquele miúdo de quase 9 anos aquando da final do Itália 90, quero que saibas que viverás para sempre. E sempre a fazer coisas, dentro da "cancha" com aquele pé esquerdo abençoado, que os comuns mortais continuam a jurar ser impossível. Obrigado, El Pibe. Até sempre,"D10S"!