Opinião

Os Açores e os “peões” do Sr. Ventura

Enquanto a plataforma PSD/CDS/PPM anunciava que já tinha uma proposta de entendimento, assente num somatório de 26 deputados, os dois deputados do Chega regional atreviam-se a dizer em público que apoiavam aquela solução, sem terem a mínima consciência que o líder nacional do seu partido, André Ventura, os via como vulgares “peões” para o seu vil pretexto de negociar/chantagear o PSD nacional, na afirmação de um compromisso de revisão constitucional, visando consagrar abominações civilizacionais como a castração química de pedófilos.
Num país de matriz civilizacional cristã impõe-se a rejeição liminar de tais pretensões, e, a haver a tentação para terem início eventuais negociações naquele sentido, deve o líder nacional do PSD, Rui Rio, ser instado a pronunciar-se sobre as mesmas. E não só pelas outras forças políticas, como também pelo Sr. Presidente da República, e até mesmo pela própria Igreja, porque o que aqui está em causa são valores há muito adquiridos pela nossa sociedade e de modo algum negociáveis.
André Ventura sabe muito bem o resultado eleitoral que teve nos Açores, o que quer dos seus deputados regionais, o que pretende fazer com a Constituição, e a crise social, económica e pandémica em que vivemos. Ele sabe muito bem o caminho que quer trilhar, assim o deixemos!
Enquanto os deputados Carlos Furtado e José Pacheco anunciavam a sua vontade de apoiar aquela plataforma de direita, e aproveitavam para justificar a demissão do vice-presidente regional do partido – que alegou não querer ser um “idiota útil” ao serviço das posições de André Ventura – este, no máximo da sua cretinice, recorre a um vídeo caseiro para de imediato lhes pregar uma tal rebocada, que certamente a esta hora os mantém atordoados. Porquanto, também já sabem, que nunca poderão exigir a um governo regional a redução para metade dos beneficiários do RSI, pois a lei e os seus critérios são nacionais, e que o agravar da crise e da pobreza que se perspetiva, apenas poderá aumentar o número daqueles.
É verdade que são deputados eleitos pela democracia, mas estes episódios mostraram bem que têm muito pouco crédito para aquilo que é preciso fazer pela nossa Região e que vai demandar grandes responsabilidades.
Se aquela plataforma tem 26 deputados para apresentar ao Representante da República, como primeira proposta de formação de governo, seria importante que o PS – que ganhou as eleições – seja recebido por Pedro Catarino para aceitar o convite de formar governo, com pelo menos 28 deputados, por força de um manifesto, responsável e atempado apoio do BE e do PAN..
De fora destas primeiras contas ficará o deputado da IL, Nuno Barata, que vai dizendo que a sua decisão de voto será expressa no Parlamento, depois de conhecido o programa de governo que Vasco Cordeiro vai apresentar, mas já adiantando que poderá inviabilizar com o seu voto soluções de governo emanadas de Lisboa.
Não é difícil prever o que virá de Lisboa, pelo menos em matéria de instrumentalização dos deputados do Chega e do perigo que estes podem representar na viabilização de um executivo para a nossa Região e na sua futura ação parlamentar. Assim sendo, recaem sobre o deputado Nuno Barata, que considero uma pessoa inteligente e que tem dado provas de saber colocar à frente de interesses pessoais e partidários, os interesses dos Açores, grandes responsabilidades sobre o futuro da nossa Autonomia. Saiba cada um decidir considerando o que está em causa!