Opinião

O binómio saúde-economia terá de constituir a nossa nova moeda única europeia

A globalização unifica, mas também segmenta. Por isso, tanto estamos sujeitos aos fluxos de pessoas e recursos externos, como em determinadas situações temos de usar o isolamento geográfico ou alopátrico para nos defendermos. Foi o que aconteceu nesta pandemia. Hoje, todos os fora económico internacionais apontam para um crescimento global da economia com cifras negativas, ainda mais graves do que era esperado para o 1º semestre de 2020. Infelizmente, a recuperação é projetada para ser mais gradual do que o previsto anteriormente. Os impactos são mais graves nas famílias de baixos rendimentos, o que pode acentuar a pobreza e as desigualdades. Porém, o grau de incerteza das previsões é ainda maior. Neste quadro, existem várias prioridades: dotar os sistemas de saúde dos recursos adequados, fiscalizar rigorosamente a higiene e segurança no local de trabalho, apoiar as famílias com perdas de rendimentos e as empresas que tiveram restrições impostas à sua atividade. Após a reabertura das economias e à medida que a recuperação económica se inicia, os apoios oficiais devem ser gradualmente reduzidos e realocados a setores socioeconómicos que podem persistir em crise. O próximo Conselho Europeu deste mês será determinante para garantir o ideal fundacional de um espaço com 400 milhões de habitantes. A solidariedade e o estado social terão de se concretizar ou a Europa passará de “velho continente” para “continente definhado”. Velho continente que traduz a base do iluminismo, da convivência individual liberal com o coletivo radicado no socialismo democrático e no estado social. Alguns ensinamentos desta pandemia expressam-se em diversas dimensões e exigências: nova economia circular global e nacional, mitigação das alterações climáticas com taxas para as emissões de carbono, coragem para instituir a tributação em paraísos fiscais, apoio à investigação destinada à saúde pública, reconstrução de sistemas de segurança civil com armazenamento de equipamentos ajustados a incidentes biológicos e cultura de autoproteção. O Governo dos Açores tomou decisões mesmo antes da pandemia chegar. Densificou-as em dezenas de medidas socioeconómicas e sanitárias. Esta proatividade é sempre muito importante. Hoje, a obrigação dos testes para quem se desloca para os Açores deveria ser norma para os países da União Europeia ou quiçá mundial. Passaporte sanitário europeu ou item sanitário nos passaportes globais deviam ser obrigatórios. Deste modo, evitava-se que qualquer viajante de um qualquer país europeu, ou mundial, pudesse infetar o país de destino. Os 95 milhões de euros de reforço ao Sistema Regional de Saúde, que serão aprovados em julho no Orçamento suplementar, representam um sinal inequívoco das prioridades do Governo dos Açores. Neste quadro global, as nossas empresas beneficiarão de um próximo quadro comunitário que se espera ainda mais vantajoso e supletivo, o que poderá relançar a economia, o emprego e o rendimento. O binómio saúde-economia terá de constituir a nossa nova moeda única europeia.