Opinião

O bom, o(s) mau(s) e o vilão

O Bom, o Mau e o Vilão, é um filme western de 1966, dirigido por Sergio Leone e protagonizado por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. A história do filme, muito sinteticamente, desenrola-se em plena Guerra Civil dos Estados Unidos, sendo protagonizada por três homens que procuram um tesouro enterrado num cemitério. Mas não, o presente texto não é sobre cinema. Esta minha rápida incursão pelo mundo da sétima arte vem a propósito dos acontecimentos que, na minha opinião, marcaram a última semana. E não é que o título do filme assenta bem no que se passou… Ora vejam: - O bom Na semana passada fez-se história na democracia Açoriana. A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores reuniu em Plenário, pela primeira vez, através de meios telemáticos. E foi um sucesso. Quer em termos formais, uma vez que os trabalhos decorreram sem quaisquer problemas; quer em termos substantivos, uma vez que a distância física entre os Deputados não impediu, tal como era apanágio nas reuniões efetivadas na Horta, a geração de consensos e, consequentemente, a aprovação da maioria das iniciativas em discussão. Continuamos, portanto, a ter um PS que corporiza uma maioria dialogante, aberta e com força reformista para ajudar o Governo dos Açores a ultrapassar esta terrível pandemia. - O(s) mau(s) A semana também ficou marcada, infelizmente, por alguns comentários dispersos e uma reação do ex (?) Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e atual Presidente do PSD/A a respeito de uma declaração do responsável pela Autoridade de Saúde Regional. A referida reação, à boleia do que grassava na caixa de comentários de alguns post´s nas redes sociais, não só usava expressões como “desumanidade” e “deslealdade”, como também, e é nessa parte que está o problema, referia expressamente que “as famílias podem ter ficado com a ideia de que nem tudo teria sido feito para melhor cuidar e salvar os seus idosos.” Esta frase já é totalmente condenável se inserida nas redes sociais, mas ganha outros contornos quando dita pelo ainda líder do ainda maior partido da oposição. E não é apenas “oportunismo político”, como sustentou Tiago Lopes, é mesmo um ultraje perante o extraordinário e incansável trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde dos Açores. O desespero é um mau conselheiro! - O vilão Já devem calcular quem personifica a figura do vilão da semana. Sim, o papel foi assumido pelo Dr. Pedro Gomes. Conheci o “vilão” da semana, sensivelmente, a meio da IX Legislatura (2008-2012) na Assembleia Legislativa. Ficou, desde então, a estima e consideração pessoal. O Dr. Pedro Gomes foi um bom Deputado e um grande Presidente da Comissão de Política Geral. O Dr. Pedro Gomes é um ilustre colega no mundo da advocacia. Tenho, também por motivos de algum corporativismo, por hábito acompanhar as suas posições públicas. Geralmente, estou em discordância. Mas, desta vez, não se trata de mera discordância. Fiquei perplexo com o papel assumido pelo Dr. Pedro Gomes relativamente à questão das quarentenas. Não querendo entrar, por manifesta inutilidade, em discussão demasiada técnica e maçadora, fico-me pelo básico. Dr. Pedro Gomes, a questão é muito simples: entre a opção pela defesa intransigente da saúde pública e a letra literal da Constituição, escolhemos a primeira. Os Açores primeiro, sempre! E, por aqui, não queremos procurar tesouros em cemitérios!