Opinião

Uma entrevista, um discurso e umas conversinhas

I No passado dia 24 de abril, o Presidente Vasco Cordeiro foi entrevistado, pelo jornalista João Simas, na RTP Açores. O tema central da entrevista, como não podia deixar de ser, foi a covid-19 e respetivos efeitos e respostas de âmbito regional. O Presidente apresentou-se a um nível muito elevado. Serenidade absoluta. Conhecimento integral dos múltiplos dossiês. Consciência plena das dificuldades presentes e futuras. Coragem para tomar decisões difíceis. Disponibilidade habitual para dialogar e encontrar melhores soluções. Tudo isto, e muito mais, foi possível assistir ao longo de quase uma hora de entrevista. Os Açorianos, com um Presidente assim, sabem com o que podem contar. Sem demagogia, sem ziguezagues, sem titubear perante forças centralistas, sem medo de decidir para não errar, com prioridades bem definidas, com confiança nos resultados das opções tomadas e a tomar dia após dia e sempre, mas sempre, governando com verdade. Não é possível dar tudo a todos. Os recursos, excetuando para alguns partidos de oposição, são mesmo finitos. O povo, quando se explica as opções de forma clara, percebe perfeitamente isto. Daí que escolha uns para governar e outros para a oposição. Assim será em outubro próximo. A esse respeito, a entrevista ajuda a explicar o porquê de alguns, direta ou dissimuladamente, pretenderem adiar o referido ato eleitoral. II O discurso do Presidente Marcelo, aquando das celebrações do 25 de Abril na Assembleia da República, foi notável. Já critiquei aqui inúmeras vezes o Presidente da República, designadamente o excesso de selfies e beijinhos que configurou a conduta infantil que levou ao autoisolamento; a patética ida à varanda; o conluio centralista com António Costa relacionado com o princípio da continuidade territorial constante do decreto do estado emergência; etc... Também já aqui elogiei o Presidente da República. Recordo-me de enaltecer a celebração do Dia de Portugal e também do final de ano na ilha do Corvo. Hoje é dia de voltar a elogiar. O discurso acima referido foi brilhante. Marcelo é de uma inteligência e habilidade políticas reconhecida por todos. Marcelo, percebendo a enorme crispação na sociedade, usou o seu tempo de antena para fazer pedagogia e, simultaneamente, dizer chega a tanto populismo. Lá no meio, nas habituais entrelinhas presidenciais, ainda deixou uns recadinhos. No tom certo e com muito sumo. Até parece simples, mas a verdade é que está apenas ao alcance de um sobredotado. III No passado dia 27 de abril, José Manuel Bolieiro foi entrevistado no Telejornal da RTP Açores. Aproximadamente 15 minutos foi o tempo que durou a entrevista. E o que ficou para a posteridade? O compromisso de colaboração com o Governo; a concordância com as medidas tomadas pelos governos da República e Regional; o anúncio de umas recomendações vagas para o governo concretizar e implementar; o agradecimento e elogio aos profissionais da chamada “linha da frente” e a solidariedade às famílias enlutadas. Poucochinho, não? O povo costuma dizer que “quem dá o que tem, a mais não é obrigado”. Mas da minha parte, confesso que prefiro uma máxima de um “velho” lobo do mar Picaroto que dizia muita vez: “quer-se ver um bom mestre é debaixo de mau tempo.” O mau tempo todos vemos…