Opinião

ABRIL IMORTAL

Nos últimos dias fez correr muita tinta uma petição com o título e propósito de “cancelamento das comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República”. A petição, à data que escrevo, tem 109.643 subscritores. Esta petição, tal como todas as outras no mesmo sentido e no sentido oposto, são um corolário do 25 de Abril. Só com Liberdade e em Democracia é que podemos dizer publicamente o que nos vai na alma. A 24 de abril isto era impossível. Tal como inexistia o direito de manifestação e todos os outros direitos sociais e políticos que norteiam um estado de direito democrático. Ainda bem que o 24 de abril nos parece ter ocorrido há uns séculos. Portanto…Viva o 25 de Abril. Viva a Liberdade. Viva a Democracia. Viva a divergência de pensamento e opinião. Viva o multipartidarismo. Viva as petições. E voltando à petição mais falada por estes dias, importa referir, arrogando-me da liberdade que Abril me proporcionou, que esta tem um ligeiro odor bolorento. Embrulhada nas recomendações da Direção Geral de Saúde e com uma interpretação conveniente e ligeira quanto ao disposto no diploma que decreta o estado de emergência e no diploma que o executa, já que equipara o funcionamento da “Casa da Democracia” e dos demais órgãos de soberania ao funcionamento de um qualquer estabelecimento comercial, habitação particular ou do cidadão na comunidade. A Presidência da República, a Assembleia da República e o Governo (Primeiro-Ministro) que são os destinatários da dita petição estão em pleno funcionamento. Nenhum destes órgãos de soberania encerrou, suspendeu a sua atividade ou meteu férias. Sei bem que alguns gostavam que isso tivesse acontecido. A petição, ao “ignorar” que a Assembleia da República tem estado sempre em atividade, seja através das reuniões das múltiplas Comissões, seja do Plenário, vem comprovar o odor que acima referi. O problema não deve ser a Assembleia da República estar em funcionamento. O problema é bem capaz de também não estar nas comemorações, as quais até contarão com menos pessoas no hemiciclo do que numa sessão do Plenário durante o estado de emergência. No ano passado estiveram presentes nas comemorações do 25 de Abril, no Parlamento, cerca de 700 pessoas. Este ano, face às circunstâncias inerentes ao covid-19, estarão presentes cerca de 100 pessoas. E estou certo de que não haverá selfies, beijos ou abraços e que tudo será feito com total cuidado de preservação da saúde pública. O problema estará nas declarações (infelizes) do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues? Também julgo que não residirá aí o problema, já que as ditas declarações surgiram já depois de ser conhecida a petição. O problema, sou tentado a concluir, estará mesmo no 25 de Abril. Problema, obviamente, para os saudosistas disfarçados de democratas e outros “istas” que andam por aí… Por vontade destes não se celebraria o 25 de Abril. Nem em tempos de pandemia, nem nunca! Para estes, que nunca perceberão o que significa “Em cada rosto, igualdade”, só nos resta encher os pulmões de ar e, onde quer que cada um esteja, gritar bem alto: 25 de ABRIL, SEMPRE!