Opinião

Beijos…

Também eles são sujeitos (e vítimas…) da História, variando o seu modo e uso com os tempos e os lugares. Expressão de afeto ou do seu grau máximo amoroso, o beijo tem igualmente servido outros objetivos e mesmo como afirmação de identidade – nas cimeiras europeias, os líderes que se beijam na face são obrigatoriamente dos países do sul. Variante simbólica a considerar é sempre a do beijo político, cuja atingiu a sua expressão mais pornográfica com o dito entre os líderes do chamado socialismo real… A foto do beijo na boca entre Brejnev e Honecker, líderes soviético e da ex-RDA, a selar uma cimeira de 1979, denegriu porventura mais a imagem do “comunismo real” do que os testemunhos de sobreviventes do Gulag! Que até inspirou uma conhecida marca a lançar uma polémica campanha publicitária (“unhate”), com novos e “montados” beijos entre líderes políticos e religiosos mundiais… Mas a coisa só pode complicar-se quando o beijo político se mistura ou confunde com o chamado beijo da morte. Não nos referimos ao mito da morte que vem beijar um pobre mortal, consumando essa condição. Até porque o Zohar, livro de comentário à Torah, do Séc. II, esclarece que tal beijo é divino, pois “o beijo na boca significa a união de um espírito com outro”. Ao invés, reportamo-nos ao pretenso afeto, elogio ou lamentação virtuosa, que um adversário político lança “surpreendentemente” sobre outro, companheiro de hostes ou não. Ninguém está livre de tal assédio, cujas manifestações por vezes ocorrem nas páginas dos nossos periódicos, deixando, em jogada de bilhar às três tabelas, incólume o adversário beijado, mas muito maltratado algum desventurado companheiro, cuja ausência fica exuberantemente notada, tal é a canelada que leva com o elogio amigo a outrem adorado… Sigam o beijo… e cumpram o vosso dever!