Opinião

Moniz no fato de Bolieiro e o PSD sem alfaiate

No passado dia 3 de junho o PSD/A aprovou o perfil dos candidatos a integrar a lista à Assembleia da República. Retivemos as seguintes características: “experiência política”; “reconhecida idoneidade política”; “capacidade de diálogo” e “dimensão regional”. Passados poucos dias, como já corria em surdina, surge na comunicação social um nome que encaixava que nem uma luva. O fato tinha sido feito à medida daquele que é tido como o “joker”. Sim, falamos, obviamente, de José Manuel Bolieiro. Sucederam-se as reuniões. As massas começaram a agitar-se. A JSD e os TSD tomaram a dianteira da oposição interna e deram início à contagem de espingardas. Bolieiro, com a habilidade que lhe é reconhecida para a dissimulação, não se pronunciou objetivamente e andava mais preocupado com as selfies entre uma e outra atuação da marcha dos coriscos. Gaudêncio tinha a missão de o levar em ombros até Lisboa. Quem ficasse atrás que resolvesse o escaldante dossiê chamado Câmara Municipal de Ponta Delgada. As hostes sociais democratas micaelenses estavam em ebulição. Pairava pelas mentes de todos a eventual perda da “joia da coroa”. E eis que chegamos a dia 2 de julho. Dia de reunião da Comissão Política Regional. Dia de decisões. Gaudêncio, apesar do ruído público, entra confiante que ao anunciar a disponibilidade do “ás de trunfo” em encabeçar a lista à Assembleia da República teria dois ou três críticos e que os demais aplaudiriam de pé. Ora, não foi nada disto que aconteceu. Gaudêncio, como diz o povo, ficou sem chão. Nem a direção por si escolhida estava do seu lado! Muito menos os Presidentes de Junta! A hora era de recuar rapidamente. Tentando-se recompor do tremendo e inacreditável erro de cálculo, dá um passo em frente e avança com outro nome para cabeça de lista. Pior a emenda que o soneto. Rebelião instalada na sala. Gaudêncio perdido nos seus próprios ziguezagues. Desnorte total! Restava, agora, agrupar as exaltadas tropas e conseguir os entendimentos e consensos necessários para se alcançar uma terceira via. E surgiu. Chama-se Paulo Moniz. Dizem que é bom profissional e excelente pessoa. Acontece que não rima, nem encosta com o perfil traçado um mês antes. Mas isso, após o que se havia passado anteriormente na sala, era um mero pormenor. A partir de agora seria o maior. A escolha deste a primeira hora. A escolha consensual. A nota pública da reunião, tal como as declarações, iriam dar umas pinceladas artísticas sobre a escolha feita. E assim foi. “Vendeu-se” o escolhido como “indicado em sintonia com as estruturas locais” (como?) e um “claro sinal de abertura à sociedade”. Pensámos logo que se tratava daquelas figuras adoradas em certos sectores da sociedade e também nos partidos e que se denominam “independentes”. Acontece que volta a não rimar, nem sequer a encostar. Afinal, estamos na presença de um independente sui generis. É apenas independente dos órgãos partidários, mas militante há mais de 20 anos! A feitura de listas é, de facto, uma missão difícil. No PSD/A, na liderança Gaudêncio, tem sido um autêntico suplício. Nas europeias o papel de mau ficou para Rui Rio e agora, quem é o responsável por mais esta enorme trapalhada?