Opinião

Ser deputada

Recentemente fui desafiada a escrever com regularidade para o jornal Ilha Maior. Fez-me lembrar de quando tinha apenas 14 anos e fui colaboradora deste jornal. Hoje, volto a fazê-lo com gosto e entusiasmo. Os últimos tempos da minha vida têm sido intensos, marcados por uma nova e enriquecedora experiência pessoal e sinto que, nesta primeira crónica, devo começar por essa partilha. Há alguns meses atrás fui surpreendida com o telefonema a informar-me da possibilidade de ocupar um lugar na Assembleia Legislativa Regional, em substituição do meu amigo Miguel Costa. Embora nas últimas legislativas tivesse convictamente integrado a lista do PS pelo círculo eleitoral da ilha do Pico, até àquele dia não tinha considerado esse cenário como real. Não consegui responder de imediato. Tinha responsabilidades profissionais que não queria defraudar; sou presidente de uma Junta de Freguesia, cargo que exerço com orgulho e paixão; sou Mãe de três crianças pequenas, os últimos a quem quereria desiludir. Tive receio de não estar à altura, receio da exposição pública. Por outro lado, ao longo dos 41 anos da minha existência, aprendi que o impossível é quase sempre aquilo que nunca se tentou. A vida não oferece promessas nem garantias, mas sim possibilidades e oportunidades. Decidi aceitar. O mundo da política não é fácil nem consensual. São diversas as ideologias e as formas de estar e, por isso, assumi o cargo com natural apreensão e consciência das responsabilidades. Encontrei um grupo de trabalho sério, coeso e competente, recebi apoio e carinho, condições que considero fundamentais para o desenvolvimento de um trabalho válido em prol dos Açores e, claro, do Pico. Nunca tendo assumido qualquer filiação partidária, sinto que não poderia estar sentada noutra bancada que não fosse a do Partido Socialista. Mantenho o empenho, a motivação e os valores que emprego em todas as minhas lutas. Para mim, a política só faz sentido assim. A função de deputada é das tarefas mais exigentes com que já me deparei. O meu filho mais velho, com 10 anos, perguntou-me o que fazia um deputado e, na altura, não fui capaz de lhe dar uma resposta imediata. A verdade é que assumir os desafios que nos são colocados e desempenhar o papel de preponderância que se espera na defesa e representação da nossa terra não é uma tarefa simples. A responsabilidade é permanente. Os desafios constantes. As ausências do lar frequentes. Nestas funções, somos frequentemente convidados para estar presentes em comemorações e iniciativas que vão acontecendo por toda a nossa ilha. Há algum tempo atrás, tive o prazer de estar presente em mais uma edição da Corrida dos Reis. Num domingo de manhã, cheguei a São Mateus e fui contagiada pelo ambiente frenético que se vivia. Um mar de gente entusiasmada, famílias completas, crianças, jovens e menos jovens, todos envolvidos no mesmo espírito de união e de partilha. Dei por mim a inscrever-me e a participar na prova. Ao longo do percurso, recordei-me que há 29 anos tinha estado presente na primeira edição desta corrida, como atleta, e tinha levado para casa uma medalha de primeiro lugar que orgulhosamente exibi ao meu pai. Percebi que ser deputada também é isto. É estar presente, sentir as pessoas e as suas emoções, partilhar os seus anseios e conquistas. A verdade é que estou cá para dar o melhor de mim. Garanto que não me seduz a mera ocupação do cargo político, mas sim a obrigação cívica e o entusiamo pessoal de servir a minha terra e as suas gentes. E acredito, por isso, no diálogo aberto com as pessoas, ouvindo-as, aceitando os seus conselhos, sugestões e críticas construtivas, procurando soluções. Tenho aprendido muito. Tenho crescido ainda mais. Na política e como mulher. Se é verdade que não são necessários requisitos especiais para o exercício destas funções, não é menos verdade que ninguém o fará bem feito se não for humilde, sério e consciente do seu lugar e do seu papel. Valerá sempre o sentimento de estarmos a cumprir a nossa missão e de o fazermos de consciência livre e tranquila. Mais do que isso, é contar em cada regresso a casa com a alegria transbordante dos meus filhos. O mais velho manifesta-me verbalmente a sua saudade e diz-me que sente a falta da minha presença; o do meio, com 4 anos, aprendeu a assobiar e presenteia-me até à exaustão com a exibição da sua nova façanha; a mais nova, com apenas 3 anos, diz-me que teve 10 saudades minhas. E sei que nos dedos esticados das suas mãos pequeninas cabe a saudade e o amor de um mundo inteiro. Amanhã é um novo dia de trabalho!