Opinião

Preparar o futuro hoje

Foram dias de muita seca e, agora, de muita chuva. Este verão, apesar de considerado atípico, tenderá a repetir-se, e creio que as alterações climáticas vieram para ficar. É tempo de agir e de preparar o futuro com perseverança, espírito de mudança e adaptação a novos desafios, mas também com muito potencial. Esta temática não é exclusiva da Região ou do Governo dos Açores. Prova disso são as sucessivas cimeiras mundiais que a assumem como urgente nos seus planos de ação e na sua agenda política. E por cá não é diferente. Logo, é tempo de reunir esforços para mitigar estes novos cenários e circunstâncias. E se a nossa agricultura é um dos principais pilares da nossa economia, também é verdade que será esta a que mais padecerá no futuro e, como tal, exige um contínuo investimento e apoio. Ao longo dos anos, passámos de zero explorações com disponibilidade deste recurso para 2600 em 2007, 3600 em 2018, e hoje temos 523 Km de redes de abastecimento de água, 151 reservatórios, seis lagoas artificiais e seis furos com uma capacidade de armazenamento de perto de 500 mil m3. Tudo isto é prova de um crescente e relevante investimento nesta matéria. Contudo, é e será necessário um reforço desta medida, replicando-se os bons exemplos do Faial e Terceira nas outras ilhas, consolidando o que foi realizado, adaptando novos investimentos às necessidades específicas e criando um plano de ação por ilha. No cenário preocupante deste verão, o Governo procurou implementar soluções que contornassem desafios burocráticos, para assim agir de imediato, tendo em conta que era fundamental compensar as perdas. Através de uma política de proximidade e diálogo constante, conseguiu-se a criação de um plano de ação colaborativo, com a alocação de 1,2 milhões de euros para a medida de apoio à compra de fatores de produção aliados à alimentação animal, a disponibilização de uma linha de apoio orientada para as perdas diretas na produção do milho, de hortícolas e tabaco e, espera-se, de frutícolas. Importa também referir que serão alocados 1,5 milhões para comparticipar a instalação de reservatórios e lagoas artificiais nas explorações dos produtores. Muito foi feito, mas muito mais há a fazer. Em cima da mesa está um conjunto de documentos que consubstanciam uma ação integrada e fundamentada para um futuro próximo, como o Plano regional para as alterações climática e o relatório do setor da Agricultura e Florestas, que evidencia as principais preocupações e linhas de ação dos diferentes setores em matéria de seca, precipitação excessiva, qualidade das águas, disponibilidade, etc. Temos também os contributos para a PAC pós 2020, que realçam a necessidade de orientar cada vez mais todos os setores para uma melhor gestão e aproveitamento dos recursos naturais, para a implementação de culturas e produtos direcionados para métodos de produção mais amigos do Ambiente. Propõe igualmente que se alterem algumas práticas produtivas, como o cultivo mais tardio do milho, a diminuição dos efetivos ou uma melhor gestão dos fatores de produção externos e internos. Há que veicular a aposta no crescimento dos setores na vertente da qualidade e não quantidade, para que se possa conquistar mais valor e devolver o justo rendimento. Há que destacar o potencial que cada produtor tem nas suas explorações para o conceito de multifuncionalidade agrícola, que diminui a dependência ou sujeição a fatores alheios, como a seca, e acrescenta mais rendimento em atividades complementares, como o agroturismo, etc. Há que considerar a possibilidade de haver uma gestão integrada das águas da Região. Em suma, este é um debate que nos deve unir na construção de uns Açores cada vez mais sustentáveis, de uma agricultura robusta e promissora. Da minha e da nossa parte, cá estaremos para orientar e informar, cá estaremos para alertar para a necessidade de gerir melhor as redes de água, de sensibilizar a população em geral e o setor agrícola em especial para o desperdício e boa gestão deste bem precioso. Este sim é um debate construtivo e útil. Isto sim é ir ao limite dos nossos recursos para defender os interesses da Agricultura Açoriana, e é isso que nos move. A todos, bem hajam.