Opinião

Médico a bordo

Por vezes, ou se calhar, mais vezes os deputados devem “embarcar” noutras áreas que não as da sua formação específica e partilhar ou entender ainda melhor a complexidade da nossa realidade insular e partilhar ideias e soluções propostas pela sociedade para problemas específicos. Foi o que aconteceu com a iniciativa da Ordem dos Engenheiros, Secção Regional dos Açores, levada a efeito no dia 30 de junho último versando um debate sobre “O Transporte Marítimo nos Açores – O Presente e as Perspetivas para o Futuro”. “Embarquei” literalmente neste debate e por isso saúdo a iniciativa que foi certamente um grande contributo da sociedade civil na caracterização e na exposição de uma perspetiva técnica dos problemas e desafios de futuro. Dos portos aos barcos, das rotas tradicionais às vias alternativas de transporte marítimo, interpondo o mar açoriano e uma nova logística que promova a valorização da posição estratégica dos Açores num mercado global exigente na eficiência e redução de custos, foram as ideias fortes lançadas neste debate. A forma como o conteúdo técnico-científico foi abordado em debate alargado com participação da assembleia, permitiu troca de opiniões e pareceres por vezes concordantes, outras discordantes das posições do governo nesta matéria, mas a meu ver complementares das decisões que se impõem neste setor. Foram elencadas as iniciativas em curso pela empresa pública Portos dos Açores com investimentos avultados entre os quais nas obras do Porto de Ponta Delgada cuja primeira fase teve início este ano e cuja segunda fase prevista para começar ainda este ano está orçada em 32 milhões de euros, visando potencializar a sua operacionalidade. Ao investimento na recuperação dos danos no Cais NATO, necessários à sua reabilitação orçados em 5,5 milhões de euros, acrescem outros investimentos num total de 46,5 milhões de euros. A particularidade do transporte marítimo de passageiros e de mercadorias entre ilhas mereceu também apurada reflexão, não obstante as melhorias constatadas, precisamente porque a questão da definição da frota para transporte de passageiros e carga rodada ainda não está encerrada e porque se considera vital para a economia insular as melhores opções, sabendo-se à partida não haver unanimidade nas opções em escolha. Apercebemo-nos das particularidades e especificidades dos nossos portos, das reivindicações dos nossos conterrâneos e da vontade de alavancagem deste setor como forte opção para o desenvolvimento dos Açores. Apercebemo-nos que o Governo acompanha esta dinâmica de crescimento e melhoria das acessibilidades marítimas com investimentos avultados, mas que ainda há mais a fazer. Constatamos ser uma realidade a importância que os portos de Ponta Delgada e da Praia da Vitória têm para reforçar esta posição estratégica dos Açores, assim como é real o seu potencial de expansão, aumentando-se a sua capacidade de resposta e relevância no contexto global do comercio de mercadorias e de turismo de cruzeiros. “Embarquei” com muito gosto nesta iniciativa que contou com o prestimoso contributo do Colégio Nacional de Engenharia Naval que veio conferir ao debate a abordagem técnica especializada e até mesmo a de uma perspetiva futurista para nós; mas já uma realidade em muitos portos e navios no mundo.