Opinião

A força da Autonomia!

O Partido Socialista dos Açores terminou na passada semana o seu último Congresso Regional antes das eleições regionais de outubro, sendo, naturalmente, tempo para um balanço sobre o que foi feito nos últimos quatro anos - de bem ou de menos bem - e tempo de refletir e preparar um novo projeto de desenvolvimento para a nossa terra. Estes últimos quatro anos foram muito difíceis, provavelmente, os mais complicados para o país e para os Açores, desde o início do milénio. À deplorável situação financeira e económica do país, que muito nos afetou, embora com menos intensidade do que no Continente, coligou-se o facto de termos enfrentado, garantidamente, o Governo da República mais fanático ideologicamente e extremista, na sua perspetiva anti-autonomista, da história da democracia portuguesa. O setor turístico vivenciou, durante este período, o calvário da ausência de turistas nacionais; O comércio e a indústria embateram numa avalanche de austeridade nacional com efeitos devastadores no consumo interno; A construção civil privada, com o fim abrupto do crédito hipotecário, foi sujeita ao ajustamento mais rápido e violento da sua história, com notórias consequências na taxa de desemprego; As famílias viram os seus rendimentos diminuir em virtude de Passos Coelho ter decretado o maior aumento de impostos conhecido na nossa história recente; Sim, é preciso ter memória, o Governo dos Açores deparou-se, de um momento para o outro, com uma crise aguda conjuntural que tornou imperativa a implementação de medidas de emergência para combater a recessão e evitar a depressão. O desemprego em 2012 estava em cerca de 15%, tendo chegado, em 2014, aos 18%, mas não fora a situação equilibrada das nossas finanças públicas, não tínhamos tido meios para implementar medidas para conseguir baixar este valor para os 12%. Na passada sexta-feira, conversava com um Madeirense sobre a nossa situação económica e sobre as muitas dificuldades que ainda atravessamos. Salientava-lhe que existiam políticas que tínhamos implementado que não tinham tido o efeito que desejávamos e que ainda muito havia para conseguir, nomeadamente na redução da taxa de desemprego. Este meu amigo salientou-me que, nos últimos quatro anos, no país e na Madeira, todos os impostos tinham subido mais do que nos Açores, que os rendimentos tinham caído a pique, que os apoios sociais tinham chegado a valores insipientes e que a desproteção no desemprego era a norma e apesar de tudo isso o défice e a dívida não estavam controlados. Por outro lado, durante todo este período, os Açores, ano após ano, fizeram uso pleno da sua autonomia, aumentando os apoios sociais, aumentando o investimento público e aumentando o apoio ao investimento privado, utilizando o setor empresarial regional para sustentar a economia e salvar postos de trabalho, implementando programas ocupacionais para desempregados, mantendo o nível de rendimentos das famílias, recuperando o consumo interno, recuperando o setor turístico, tudo isto assente em finanças públicas responsáveis, no défice e na dívida, que em nada contribuem negativamente para a situação nacional. Mas não foram estes os temas centrais do Congresso do PS na cidade da Lagoa... Preferimos olhar em frente do que celebrar o passado, porque percebemos que o pior da crise já passou e, que apesar de nem tudo ter corrido bem, conseguimos atravessar a tormenta da recessão e entrar em “águas mais calmas”, onde surgem novos desafios e novas batalhas, como o fecho dos mercados de exportação na agricultura, a quebra dos rendimentos na pesca ou a redução da precariedade no emprego, que necessitam de inovação nas políticas e ousadia nas soluções.