Opinião

Lesados Banif

Passos Coelho teve três anos para sanear a banca e o Banif. Não utilizou a totalidade dos 12 mil milhões de euros disponibilizados pela Troica, ao invés da Espanha e Irlanda, onde não houve convulsões bancárias. O atual Governo da República só teve dois meses para decidir sobre o Banif. Nos Açores, os seus clientes dizem ter sido “aliciados, enganados ou persuadidos”, num misto de boa-fé e grande proximidade com o “seu BCA”… O desconhecimento da lei não desobriga ninguém. Porém, não é menos verdade que numa vida esforçada para pequenas poupanças, o sentimento de velhice mais tranquila ou de deixar alguma coisa aos filhos foi maior do que a “ambição de juros mais altos”. As pessoas sempre contaram com essas poupanças, embora “fizessem a sua vida” fora de pensamentos obsessivos de lucros. Aconteceu na maioria dos lesados que constituíram pequenos depósitos, baseados na familiaridade com o “nosso/seu banco”. Muitos questionam a falta de garantia da pequena parcela dos lesados Banif, num processo total de 3,2 mil milhões de euros, assumidos pelo Estado na operação com o Santander Totta (ex-Totta e Açores por ironia!). A explicação clara e justa de não atingir as economias dos Açores, da Madeira, a questão sistémica da confiabilidade. e “o ótimo negócio e saúde” do Santander permitem enquadrar este assunto e reganhar a confiança dos açorianos. Processos judiciais, desesperos na praça pública e debandada de clientes não configuram “vias úteis” para o Santander. O tema é global. Seriedade não é ingenuidade. Como mostra o Novo Manifesto dos Economistas Aterrados (2015) é preciso travar a “quarta liberdade” inscrita no Ato Único Europeu (1986), que permitiu a livre circulação de capitais entre países europeus e no resto do mundo. Cresceu a especulação desenfreada de capitais de curto ou muito curto prazo e a evasão ilegal para paraísos fiscais. A Europa será da “coesão” (!?) se optar por investimento a longo prazo nas empresas e se penalizar a livre circulação de capitais com um imposto sobre transações financeiras. O neoliberalismo levou à crise de 2007 desencadeada pelo insucesso tonitruante de práticas financeiras especulativas. A Europa confronta-se com soluções de futuro ou o soçobrar nas suas vulgatas económicas, contradições bancárias e financeiras que geram fortunas à custa de muitos lesados de novas “Donas Brancas”…