Opinião

Base das Lajes - O Governo sem genica

A audição parlamentar aos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa não trouxe nada de novo ao processo da Base das Lajes, a não ser a confirmação da submissão aos interesses dos Estados Unidos. O ministro Paulo Portas justificou o fato de a reunião ser aberta à imprensa para haver reservas nos dados a fornecer. Julgo que foi apenas uma desculpa. O Governo não revela nada porque nada tem a revelar. As generalidades apresentadas são as mesmas que foram fornecidas aos deputados do PS quando estes dirigiram perguntas por escrito ao Governo, há uns meses atrás. O pouco que sabemos é graças às diligências da imprensa que vai levantando a ponta do véu junto de algumas entidades. Tudo indica que, até agora, é pouco, muito pouco, o que está em cima da mesa. Da parte do Governo da República transparece alguma satisfação pelo fato de ter vencido a fação que pretendia manter a Base em funcionamento, mesmo que adormecida. Na minha perspetiva, o encerramento nunca esteve em causa. A estratégia americana não passou de uma ameaça para baixar as exigências das contrapartidas que o governo português viesse a propor. A Base foi, é e será fundamental para os americanos, embora enquadrada noutra estratégia global. A saída dos americanos podia implicar a presença de outra potência, situação que os americanos não permitirão. O Governo justificou a redução efetuada pelos EUA, como estando integrada numa política geral de contenção que afetou muitos outros países. O ministro Paulo Portas referiu que a redução era de 80 mil para 68 mil na Europa, sendo a das Lajes de 640 para 160. Ora, se fizermos as contas percentuais, verificamos que no conjunto das outras bases a redução é de 15%, enquanto nas Lajes atinge os 75%. Sendo assim parece não existir dúvidas de que fomos profundamente lesados. O estatuto de parceiro especial, com ricas e multifacetadas relações que vão para além da componente militar, de pouco serve. A crueza dos números fala por si. Outra postura assumida pelo Governo e que prejudica as negociações é a de insistir nas vantagens e nos benefícios que Portugal e os Açores auferiram com a Base das Lajes. É lógico e notório que existiram benefícios, mas para quem está a negociar o que deve ser valorizado é o benefício recolhido pelos Estados Unidos. Se há alguém nesta relação que beneficiou de forma exponencial, foram os americanos que usaram a nossa base a custos baixos. Sem ela, a supremacia militar que exerceram no mundo ter-lhes-ia saído muito mais cara. Na audição referida, o ministro Paulo Portas frisou que Portugal manifestou preocupação e insatisfação pelo impacto que a atitude americana iria causar nos Açores. Acho que é o mínimo que se pode exigir a um governo que deve defender os nossos interesses. Embora o ministro da Defesa tenha afirmado, em resposta a uma crítica do deputado Ricardo Rodrigues, que o Governo não está de braços cruzados, nem a esbracejar, o que vemos é o tempo passar sem que surjam propostas concretas que aliviem a angústia dos terceirenses. Esperemos que no fim de todo este processo não surja uma solução semelhante à que foi dada ao caso dos submarinos: o aproveitamento dos hangares para hotéis de luxo.