Opinião

Caridade de Natal

A D. Benta tinha jurado a si mesma nunca mais escrever uma “nisca” que fosse sobre as chamadas” caridadezinhas” tão frequentes e mediatizadas nesta época do ano. Há uns meses atrás, por mor de dar os parabéns ao senhor Presidente da Câmara de Ponta Delgada quando esse autarca dispensou uma casinha para distribuírem “sopas” (refeições) aos nossos irmãos mais carenciados, acabando com a exposição pública a que os beneficiados estavam sujeitos no Jardim Sena Freitas, a velhinha da Calheta levou, por duas vezes, uma enorme rabecada vinda da pena de Monsenhor Weber Machado. Na altura a velhinha estava no hospital, não teve conhecimento imediato dos referidos artigos e não teve forças, nem vontade, para contra-argumentar no jornal. Mas é bom dizê-lo, em abono da verdade, o sacerdote ao saber do grave estado de saúde do seu alvo, de pronto, numa atitude cristã, foi à enfermaria consolar e apoiar a doentinha. Como não poderia deixar de ser, o tema da conversa também passou pelo esclarecimento das posições por ambos assumidas e defendidas acerca da verdadeira caridade cristã e da “caridadezinha” oportunista, egocêntrica, própria dos frequentadores das feiras de vaidades que usam e abusam da desgraça alheia para aparecerem nos écrans da televisão, nas páginas dos jornais ou nos noticiários radiofónicos. É de louvar a atitude de tantos quantos, numa postura de verdadeira solidariedade, se dedicam, das mais diversas formas, a tornar a vida menos difícil aos que, pelos mais diversos motivos, vivem com maiores ou menores dificuldades e se vêm obrigados a receber o fruto da generosidade daqueles que mais têm ou dos que, tendo pouco, ainda conseguem tirar o pão à sua própria boca para matar a fome do seu semelhante. Nesta altura de Natal, crescem como cogumelos as iniciativas de bem-fazer. Felizmente, assim é! Mas há que separar o trigo do joio e saber respeitar os seres humanos que se apoiam e que têm direito à privacidade da sua imagem perante a sociedade. A D. Benta ficou chocada quando a sobrinha-neta lhe mostrou no Facebook, publicada para todo o mundo ver, na página de uma mediática senhora da política, a imagem da distribuição de uma refeição aos sem-abrigo e desvalidos da sorte sob os holofotes das câmaras e mostrando, para além da imagem da “benemérita”, os rostos dos “pobrezinhos” a quem coube a sorte de comer, no fim da refeição, uma fatia de bolo e uma rodela de “nanás”! Será que os retratados autorizaram o uso da sua imagem e estiveram de acordo com a exposição pública a que foram sujeitos? Creio que não! A prima Mary Angels até telefonou da “amerca” à D. Benta, pois quando foi ao “face” conheceu logo um rapaz no retrato. A Mary estava mesmo douda da cabeça e disse que se aquilo fosse nos states, levava a autora à “corte” e o seu “lóia” havia de exigir uma “soa” de não sei quantos milhões de “dolas” por uso da imagem do “ young boy” e por falta de respeito por quem precisa de ajuda. A D. Benta percebe que as figuras mediáticas até podem e devem ajudar determinadas causas, oferecendo para o efeito a sua imagem, contribuindo para a divulgação de boas causas e incentivando a participação dos cidadãos! O que deixa para Deus lhe levar é ver os promotores de “caridadezinhas oportunistas” que se servem da desgraça dos outros para aparecerem nas revistas, nas televisões e nos jornais. Bem pequenina, em casa e na catequese, a D. Benta aprendeu que a verdadeira ajuda deve ser feita com a mão direita, a modos que a esquerda não lhe bote a vista em cima! O Natal termina amanhã! Pra semana, como será? P.S. A operacionalidade da Câmara do Dr. Bolieiro está comprovada. Os passeios da Rua Aníbal Câmara continuam esburacados na mesma! E já lá vão quatro alvitres! Será uma prenda do Pai Natal? P.S. No Dia das Montras, houve lojas que mantiveram as ditas com as luzes apagadas. Terá sido um protesto pela falta da iluminação camarária ou apenas desleixo?