Opinião

A vitória do mérito

Após longos meses em ambiente de campanha, os açorianos decidiram o seu voto. Houve vencedores e vencidos. Aos partidos caberá tirar as devidas conclusões e os analistas não deixarão de escalpelizar todo o contexto em que decorreram as eleições. Pela minha parte, quero apenas evidenciar que esta vitória foi a vitória do mérito. Em alguns sectores tem havido uma tendência para empolar os efeitos da política levada a cabo pelo Governo da República, como responsável pela derrota da drª Berta Cabral. É evidente que estes fatores não podem ser menosprezados, mas não devem ser sobrevalorizados. Em primeiro lugar, a vitória do Partido Socialista deve-se à política desenvolvida pelo Governo Regional nos últimos 16 anos. Se ela tivesse sido negativa, se não tivesse agradado aos açorianos, a votação, logicamente, seria outra. Em segundo lugar, é necessário ter em conta o novo candidato, as suas propostas e a sua postura. Durante muitos meses, procurou criar-se na opinião pública a ideia de que a saída do presidente Carlos César corresponderia ao fim de um ciclo, catapultando de novo o PSD/A para a esfera do Poder. Os analistas não tiveram em conta as capacidades do novo candidato, Vasco Cordeiro. Quem já o conhecia de perto, sabia perfeitamente que ele estaria à altura de prosseguir uma política em defesa dos Açores, uma política que minimize as consequências negativas da recessão que o país atravessa. Mas para quem o conhecia superficialmente, a dúvida desapareceu à medida que a campanha se desenrolou. Vasco Cordeiro mostrou-se conhecedor dos vários dossiês, soube responder de forma convincente aos desafios que lhe foram colocados, não entrou na demagogia fácil de prometer o impossível e manteve uma postura serena que deu confiança aos eleitores. Este aspeto é, na minha perspetiva, muito importante. O país, para além da crise económica, social e política, atravessa também uma fase de descrença nos políticos. Basta ver os programas televisivos para constatar o que se passa pelo Continente face aos nossos governantes. Quem participou na campanha eleitoral do Partido Socialista, percebeu perfeitamente que havia um elan entre a população e os governantes, entre a população e os candidatos, com relações afetuosas bem evidentes. Esta relação não anula o espírito crítico, a observação atenta e perspicaz que caracteriza o açoriano. Acontece, todavia, que Vasco Cordeiro soube manter esse elan e transmitir confiança ao eleitorado, não contribuindo para elevar o índice de crispação que provoca angústia e desespero. A postura de Vasco Cordeiro foi uma postura correta, de um governante que não se deixa enrolar na onda negativista. Mostrou-se consciente das dificuldades do momento, mas soube manter viva a esperança, consolidar a confiança na continuação de uma governação socialista. A vitória do Partido Socialista é uma vitória do mérito consubstanciada na pessoa de Carlos César e da equipa que com ele trabalhou; mas a Vasco Cordeiro cabe o mérito da vitória, conjuntamente com todos os que se empenharam nesta jornada triunfante.