Opinião

Viva a República

Qualquer que seja o balanço que se faça de tão importante momento histórico, das suas circunstâncias e das suas vicissitudes, a implantação da República, em Portugal, constituiu uma mudança crucial na nossa história, presidida por valores de evolução e de progresso que norteiam e sempre nortearam a causa republicana. Não branqueamos os abusos e o sectarismo que existiram na implantação deste regime e nos anos seguintes que levaram, aliás, ao seu colapso e que nos empurraram para uma ditadura negra e sombria a partir de 1926. A irresponsabilidade, as divisões constantes e o fundamentalismo de alguns sectores republicanos originaram essa profunda subversão dos princípios republicanos só corrigida em Abril de 1974.Esses erros da altura devem servir de alerta e, adaptados à realidade dos nossos dias, devem servir como exemplo do que não pode ser feito. Os princípios que a República defende devem ser os pilares da nossa vivência em sociedade. Comemorar a República é comemorar e exaltar esses princípios. Os princípios e valores que este regime representa como a dignidade da pessoa humana, a soberania da vontade popular, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, sem discriminações, onde todos, independentemente do que fazem, do que acreditam e de onde nasceram são vistos como iguais perante o Estado. Os princípios que nortearam a revolução republicana de 1910 devem continuar a ser pilares da nossa vivência colectiva e devem ser reforçados e devidamente implementados, em nome do bem comum e dos interesses de todos. Sucessivas divisões de fundo e profundas crises económicas e sociais originaram convulsões que levaram a mudanças de regime, nalguns caso vistas como a cura para todos os males, mas que se vieram a revelar nefastas mais tarde. Para que não corramos esse risco, é preciso que todos se concentrem em fazer a República, em aprofundar e reforçar os princípios que este regime defende e que, nos momentos mais difíceis, tenhamos a capacidade de por em primeiro lugar o bem comum e construir consensos em torno desse desígnio. Os tempos difíceis que vivemos exigem muito dos políticos, mas essa tarefa não deve estar circunscrita apenas aos agentes do sistema político. É obrigação de todos.