Opinião

Construir com Confiança

É saudável distanciarmo-nos em tempo, espaço, emoção e pensamento do nosso quotidiano, muito especialmente os que o têm rotineiro e os que vivem fixados em objectivos e vêem toda a realidade à luz dos mesmos. Por outras palavras, é saudável afastarmo-nos da árvore para podermos ver a floresta. Foi o que fiz durante os últimos meses, deixando repousar esta colaboração e outros compromissos para, com outra disponibilidade e o mais liberta possível de preconceitos (que todos os temos, mas há quem não reconheça os seus) iniciar um novo ciclo. Sem surpresa, reparo que alguns dos velhos temas ainda são repetidos como uma oração – mas sem fé. Sem estranheza, noto que as pessoas mais aziagas ainda insistem em discursos repisados – mas sem esperança. Sem assombro, percebo que a velha máxima “sol na eira e chuva nas couves” continua a ser perseguida – mas sem o discernimento da premissa “não se pode ter”. Entendam-me: a liberdade de pensamento e de discurso é um bem precioso. Corrijo: toda a liberdade é um bem precioso desde que acompanhada da mesma quota de responsabilidade. E este é o cerne da questão: no momento em que vivemos a responsabilização assume especial importância. Responsabilidade na acção mas também nas palavras, responsabilidade no trabalho mas também no convívio, responsabilidade na política mas também na cidadania (não há, de resto, como separar a primeira da segunda). Os agentes políticos e sociais têm, portanto, uma responsabilidade acrescida nesta fase: de produzir em vez de pedir, motivar ao invés de desmoralizar, contribuir em contraponto à crítica estéril, valorizar e não diminuir, garantir ao contrário de desamparar. Para enfrentar, com sucesso, novas dificuldades são necessárias novas atitudes inconformistas e actuantes. Há que acreditar que podemos transformar as dificuldades em oportunidades. Mas se não confiarmos em nós, não teremos as ferramentas necessárias para encetar esse caminho. Cada um de nós é agente de mudança, se quiser. Como reza a sabedoria popular: querer é poder. Atitudes de queixa, de protesto e de negativismo são passadistas. Pertencem a um tempo que já morreu. A actualidade é um desafio constante ao nosso engenho, é uma prova para a nossa criatividade, é um repto ao nosso sentido de inovação pessoal e social, é uma provocação para nos superarmos, é uma dádiva para aperfeiçoarmos o nosso sentido produtivo e a nossa capacidade de execução, para revigorarmos o nosso tecido empresarial, para fortalecermos o nosso sentido comunitário, para empreendermos um novo rumo colectivo. Sim, sei que há jovens à procura de emprego e empresas em dificuldades. Mas sei que há apoios para os jovens criarem o seu próprio emprego e para as pequenas empresas criarem postos de trabalho, se apresentarem projectos exequíveis. Sim, tenho conhecimento das dificuldades de muitos idosos. Mas nunca houve tantos apoios para os idosos como nos nossos dias. Sim, há quem diga que as crianças são as que mais sofrem. Mas jamais houve tanta atenção para as crianças como agora. Sim, conheço adultos que se esforçam muito para garantir o sustento das suas famílias. Mas nunca foi dada tanta ajuda institucional à família. Sim, reconheço que há crise de valores. Mas a humanidade com valores cresce. Sim, estamos preocupados. Mas exactamente por isso encontraremos soluções para vencer.