Nos últimos dias, voltou a conversa sobre o 25 de novembro. Alguns tentam elevá-lo ao patamar de feriado, outros querem que tenha o mesmo peso simbólico que o 25 de abril. Há até quem tente reescrever a história como se a democracia tivesse sido salva nesse dia — como se até lá estivéssemos à beira de um regime qualquer que não fosse o da liberdade.
É importante lembrar: o que fez cair a ditadura foi o 25 de abril. Foi naquele dia que aos militares se juntou a vontade popular e que se abriu o caminho para a liberdade, para os partidos, para os sindicatos, para a comunicação social livre, para o voto que verdadeiramente ordenasse.
O 25 de novembro, com todas as suas complexidades, foi sim um momento político. Mas foi também um episódio tenso, feito de receios, confrontos internos e disputas de rumo. Não é um símbolo puro, nem deve ser transformado em mais um campo de batalha política.
É curioso como, de vez em quando, só fala tanto desse dia quem nunca se mostrou verdadeiramente entusiasmado com o 25 de abril. Como se a memória da liberdade tivesse de ser sempre compensada por uma outra narrativa, mais ordeira, mais controlada, mais conveniente.
Eu continuo a preferir a liberdade descontrolada do 25 de abril ao silêncio organizado do tempo que o antecedeu — ou à tentativa de lhe encontrar rivais no calendário.
Se há datas que nos devem unir, que seja a do início da esperança. E essa, por muito que tentem, continua a ser só uma: vinte e cinco de abril. Sempre!
(Crónica escrita para Rádio)