Opinião

Gaiolas e pássaros

Entre a vontade de esclarecer e a necessidade de passar uma esponja sobre os factos, há quem prefira a última. O problema - para quem se entretém com processos de intenção - é que, na maioria das vezes, a “narrativa” não resiste ao teste do algodão. Bem se esforçaram os defensores da coligação em ver no atraso das obras no Porto das Lajes a mão malévola de um qualquer “inimigo” externo. Bem se empenharam em repetir a cartilha de que há atrasos nos pagamentos da República. Sucede, porém, que foi o próprio Presidente do Governo a admitir publicamente a evidência: ainda está a ser ultimada, pelo Governo Regional, a candidatura aos fundos europeus para comparticipar as obras de remodelação do porto das Lajes das Flores, sendo que os tais pagamentos em falta são, afinal, os que irão decorrer desta mesma candidatura às verbas comunitárias. Este episódio é apenas mais um sintoma que nos penaliza: procurar desculpas no passado ou num inimigo externo pode até ser uma resposta fácil, mas não resolve coisa alguma. É como reinterpretar a realidade e declarar, tal qual escreveu um célebre e muito citado autor, que “uma gaiola saiu à procura de um pássaro”.