Opinião

Os "Escritores" do Carnaval

Apesar de faltar uma semana para o início do Carnaval a minha verve é já a das vésperas do domingo gordo, o barrigudo das filhoses e dos coscorões, que este ano se antecipou, provavelmente, pela longa espera por um fevereiro, digno de ser chamado fevereiro, em que os cinco dias de folia fazem o mês, porque se a sabedoria popular nos diz que a vida são dois dias e o Carnaval são três, nós Terceirenses, que gostamos de esticar a corda contra a sabedoria, o calendário e os poderes instituídos, determinamos, com assinatura e envio para publicação pelo Rei Mono, temporariamente a residir na Madre de Deus, que a vida até pode ser meio-dia mas o Carnaval são, indiscutivelmente, cinco.

O nosso Entrudo feito de palavra, rima e muito escárnio, por vezes esquece aqueles que são os "escritores" do nosso Carnaval.

Por pudor, não quero aqui louvar os poetas, como o Hélio Costa ou o João Mendonça, ou enaltecer os "arranhados" e anónimos escrevinhadores do cartaz da tourada, eternos merecedores dos Olimpo dos Artistas, mas sim dar o destaque merecido àquelas que são as suas musas inspiradoras, uma outra classe de artistas, que confortavelmente sentados nos gabinetes de veludo, como canta Jorge Palma, através da sua má palavra, pouca rima e algum desdém, vão traçando o futuro desta ilha de Jesus, através de despachos, omissões e, mais recentemente, cativações.

São estes os "escritores" do Carnaval que, através do enorme sacrifício de nada fazerem pela Terceira, garantem a graça e atualidade dos versos dos nossos poetas e escrevinhadores dedicados ao buraco, agora metafórico, do hotel do Cantagalo, à perpétua inexistência do cais de cruzeiros ou à inconclusa obra do Porto das Pipas.

Este ano vamos voltar a encher de cor e alegria os nossos salões com a reconfortante, mas infeliz, certeza de que os gracejos que ouvimos desde criança são, para mal da Terceira, intemporais.