Opinião

Atitudes Par(a)lamentares

Esta semana há dois assuntos que merecem destaque nesta crónica: a ausência de relatório à Comissão de Inquérito sobre as Agendas Mobilizadoras e o ataque racista em que foi vítima um Deputado no Parlamento francês.

A ausência de relatório merece o meu destaque porque ele demonstra de que é feita a coligação que nos governa e é bem demonstrativa da suposta centralidade que esta mesma coligação apregoava dar à Assembleia. Não está só em causa do assunto debatido nesta comissão, porque este, se mereceu uma investigação já tem a sua importância afirmada. O que merece o meu destaque é ver uma maioria coligada ter decidido que o teor de uma investigação parlamentar não devia ser revertido num relatório final. Já os motivos que levaram a esta decisão para mim é clara: é uma tentativa de esconder qualquer conclusão que, apesar de resultar da própria investigação, não fosse favorável ao comportamento do atual Governo nesta matéria. Se dúvidas houvesse, ficou muito claro que a Instituição Assembleia Legislativa foi usada a belo prazer do PSD, do CDS-PP, do PPM e do CHEGA.

Já no Parlamento francês também se viu uma certa centralidade parlamentar e naquele caso também foi uma péssima centralidade. Durante a intervenção de um Deputado negro, outro Deputado do partido da extrema-direita liderado por Marine Le Pen, disse e cito: “volta para África”. Com toda a naturalidade as reações de repúdio foram espontâneas e imediatas. Mas o que pretendo destacar neste assunto não é o ato, mas sim as consequências que resultaram deste ato: foram quinze dias de suspensão e um corte de cinquenta porcento na remuneração para o Deputado da extrema-direita. Caros ouvintes, é só isso que vale um ato racista? É com uma punição assim que uma instituição democrática pretende dar o exemplo no combate ao racismo e a atitudes xenófobas? Parece-me muito pouco… Até quando vamos alimentar estes extremismos?

 

(Crónica escrita para Rádio)