Opinião

Isto precisa de mudar

Assinalou-se esta segunda-feira, 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental, cumprindo-se 30 anos desde a sua criação, em 1992, pela Federação Mundial de Saúde Mental.
Criado com o intuito de chamar a atenção para a necessidade de se cuidar e atender à saúde mental, combatendo os preconceitos que geralmente acompanham quem desenvolve algum problema emocional e psicológico, o objetivo consistiu em reduzir o estigma social que obstaculiza a procura por cuidados de saúde e dificulta a salutar convivência em sociedade, agravando distúrbios psicológicos já existentes.
Com a Pandemia provocada pela COVID-19 gerou-se uma crise global na saúde mental, com um aumento significativo nos casos de ansiedade e depressão, a que se juntou a interrupção de muitos dos cuidados para a estabilização da condição de saúde/ doença.
Desde os profissionais de saúde que prestaram e prestam cuidados em circunstâncias difíceis regressando no final dos seus turnos a casa, passando pelos trabalhadores cujos meios de subsistência foram e se encontram ameaçados, o grande número de pessoas retidas em ambientes e envolvências frágeis, os alunos que tiveram de se adaptar às aulas à distância com pouco ou nenhum contacto com professores e colegas, aquelas pessoas que já possuíam transtornos mentais e ainda ficaram mais socialmente isoladas que antes, até aqueles que tiveram de lidar com a dor da perda de um ente querido sem se poder despedir, o impacto da COVID-19 na saúde mental foi profundo.
O caso das crianças e jovens constitui indubitavelmente uma das faces mais visíveis do impacto da Pandemia na saúde mental, nomeadamente, no que concerne ao desenvolvimento de várias competências pessoais e sociais.
Em outubro de 2021, a UNICEF elaborou e publicou o documento "A Situação Mundial da Infância 2021 - Na minha mente: promover, proteger e cuidar da saúde mental das crianças". Um relatório a nível global que retratou a saúde mental das crianças, adolescentes e cuidadores no século XXI, onde se incluiu o período pré-COVID-19.
Com o referido relatório e suas conclusões, a UNICEF procurou apelar e sensibilizar os governos, bem como todos os parceiros do setor público e privado, com vista à assunção de um compromisso, para que estes "comuniquem e atuem" no sentido de promover a saúde mental de todas as crianças, adolescentes e cuidadores, com recurso a um "investimento urgente" em todos os setores, para além da "integração e ampliação das intervenções baseadas em evidências", assegurando que escolas apoiem a saúde mental, através de "serviços de qualidade e relações positivas".
Este é um cenário ao qual a Região não pode ficar alheia.
É preciso atuar.
É necessário atuar localmente e diferenciadamente, informando, sensibilizando e prevenindo, ao nível da educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário.
É necessário reforçar estes estabelecimentos de profissionais especializados e diferenciados na área da psicologia da educação e na área da psicologia clínica.
É necessário o envolvimento de todas as entidades e equipas já existentes e criadas nas últimas décadas, em simultâneo com as forças vivas da comunidade.
É necessário protocolar, rastrear e encaminhar os casos detetados para acompanhamento psicológico adequado.
É necessário proporcionar condições para o acompanhamento efetivo dos casos detetados.
O que falta para que tudo isto seja uma realidade?
Atentemos nas palavras de Henrietta Fore, Diretora Executiva da UNICEF:
"Temos visto muito pouca compreensão e muito pouco investimento num elemento crítico para maximizar o potencial de cada criança. Isto precisa de mudar".