Opinião

Dar o dito por não dito?

Abriu no passado ano de 2021 o primeiro hospital privado da Região Autónoma dos Açores, o Hospital Internacional dos Açores, sedeado na ilha de São Miguel, na sequência de um investimento privado avultado e de um constante apoio por parte do anterior Governo Regional em funções.

No discurso de inauguração do referido Hospital Internacional dos Açores, afirmou o Dr. José Manuel Bolieiro, segundo o que se encontra no portal do Governo Regional dos Açores, que:

“A obra […] contribui para o desenvolvimento da região, “num exemplo claro de como os setores público e privado conseguem complementar-se, elevando e dignificando a oferta disponível para os Açorianos”.

“Temos mais uma oferta qualificada e robusta, que dá oportunidade aos Açorianos de acederem a soluções mais próximas e céleres, evitando a inevitabilidade de deslocação para o exterior da Região. Com mais esta resposta, espera-se diminuir constrangimentos no acesso aos cuidados de Saúde”, frisou.

“Na verdade, a par do essencial reforço do Serviço Regional de Saúde, que prioritariamente vamos concretizar, poderemos, de forma coordenada e convencionada, aumentar o acesso a consultas, exames ou cirurgias”, acrescentou o governante.”

Decorrido um ano, a expectativa seria, naturalmente, que esta unidade hospitalar ocupasse uma posição de destaque na articulação entre o setor público e privado, atentas todas as valências que disponibiliza, e que os nossos açorianos pudessem usufruir de uma instituição alternativa, sem terem de se deslocar para fora da região.

Ao invés, veio o Administrador do HIA, Dr. Luís Farinha, a público, referenciando que o HIA se tem disponibilizado para realizar intervenções cirúrgicas não oferecidas no Serviço Regional de Saúde, nomeadamente nas áreas de vitrectomia e cirurgia cardíaca, e que tal não tem tido acolhimento por parte do Hospital do Divino Espírito Santo, ou sequer qualquer resposta.

Constata-se assim, lamentavelmente, que uma instituição que pode servir de pedra de desenvolvimento do cuidado de saúde açoriano não está a ter a devida utilização, tão e somente pela resistência de se continuar a fazer como até agora – enviando os doentes para fora da região – com aumento de custos, burocracia, e deslocando o doente fora do seu ambiente de suporte principal, que tão importante se revela em situações de doença.

Algo que é ainda mais agudizado no que concerne as ilhas mais pequenas, que não têm sequer acesso aos meios de diagnóstico necessários, e que poderiam beneficiar de cuidados de saúde diferenciados, sem terem que recorrer a um pesado seguro de saúde, contando com o seu Estado Social.

De facto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Mas espera-se que não mude aquele que deve ser o principal objetivo do governo regional açoriano – o bem-estar dos seus açorianos.