Opinião

É na Terra não é na Lua

O título deste texto é, como sabem, o nome de um documentário/filme da autoria de Gonçalo Tocha e que mereceu diversos prémios e distinções no ano de 2011 e seguintes. Este filme catapultou a Ilha do Corvo para a ribalta. A pacatez e simplicidade das suas gentes foram, brilhantemente, evidenciadas. O filme foi um enorme sucesso e um extraordinário serviço público para os Açores em geral e, muito particularmente, para a Ilha do Corvo. Recordei-me disto a propósito, como já devem estar a calcular, de um outro tipo de “filme” que está em cena por aquela grandiosa Terra e que, também, está a ter muita audiência nas restantes Ilhas. Mas não só. Há outros exemplos de “coisas” que ficavam bem na Lua, mas que infelizmente são na Terra. Ora vejamos, em jeito de curtas, os seguintes exemplos:

i. Um rei sem coroa
Descansem os amantes de fado que esta “curta” nada tem a ver com o fadista Fernando Maurício. Aqui o fado é outro. E este rei, ao que se sabe, não tem jeito nenhum para cantar. Mas a verdade é que tem dado música a muita gente. Desta feita, pôs a mexer o presidente do conselho de administração da unidade de saúde da Ilha do Corvo. Não está em causa a competência e legitimidade do governo para tomar a decisão quer tomou. Nem está em causa a competência profissional do médico destituído ou do seu sucessor. O que está, verdadeiramente, em causa chama-se poder. E como todos já sabíamos, há um lema do antigo regime que nunca desapareceu totalmente e que rezava assim: “Manda quem pode, obedece quem deve”. E também convém ter sempre presente que “em política, o que parece é”…

ii. Em busca das agendas
mobilizadoras
A saga das agendas mobilizadoras parecia não ter fim. Já assistimos a debates acalorados na praça pública. Já todos vimos o “passa culpas” entre governantes. Já presenciámos o tiro ao alvo à Câmara de Comércio de Ponta Delgada e ao seu Presidente. Já houve mudança de titular na pasta das finanças, cuja leitura foi unânime. Até já pairava no ar, como é usual, a prorrogação da vigência da comissão de inquérito. Mas eis que, por estes dias, numa audição na dita comissão, o presidente do IAPMEI – entidade chave neste processo – veio dizer que não tinha conhecimento da consignação de 117 milhões às empresas açorianas no âmbito das Agendas Mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Se esses 117 milhões [destinados aos Açores] se reportavam às Agendas Mobilizadoras, é qualquer coisa que o IAPMEI não tem conhecimento. Para o IAPMEI, as Agendas Mobilizadoras têm uma dotação global de 930 milhões de euros”, afirmou o ilustre depoente. E ainda acrescentou que “No Decreto-Lei, na Portaria e no Aviso, não há nada que defina que as agendas oriundas da Região Autónoma dos Açores possam ter um tratamento específico ou especial no âmbito das Agendas Mobilizadoras.” Importa-se de repetir? Devagarinho… É que se isso é mesmo assim…
Há mais exemplos que dariam curtas metragens de idêntica qualidade, mas, felizmente, o texto já vai longo… e eu até duvido que o Homem tenha ido à Lua!