Opinião

Inaceitável

Há já uma semana que assistimos com horror e estupefação ao vil ataque que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia, a mando de Putin, um autocrata louco, treinado no KGB, que não olhou a meios para se manter no poder há mais de 20 anos.

Ao longo desse tempo, Putin não pensou apenas na recuperação do império. A interferência em vários atos eleitorais no mundo ocidental e os ataques informáticos perpetrados por piratas russos ilustram outro lado, aliás muito obscuro, das aspirações de Putin, que não tem qualquer dificuldade em violar a soberania de um Estado e as normas do direito internacional em nome dos seus objetivos. Esta não é a primeira incursão de Putin em território alheio e a tragédia a que assistimos hoje resulta da execução de um plano que vem sendo desenhado há muito tempo, perante um ocidente que, até há bem poucos dias, colocou os interesses económicos em primeiro lugar.

Perante o enorme sofrimento do povo da Ucrânia, esperamos que a grande evolução que a atitude da União Europeia perante a Rússia conheceu ao longo dos últimos dias venha ainda a tempo e que, no Kremlin, alguém consiga travar Putin a tempo de evitar uma tragédia ainda maior.

Agendas mobilizadoras – A Comissão de Inquérito à Operacionalização das Agendas Mobilizadoras ouviu recentemente o Secretário Regional das Finanças e um representante da consultora KPMG. Quanto a Bastos e Silva, num momento que deveria ser de humildade e reconhecimento dos graves erros cometidos, atirou as culpas do insucesso para o Governo da República – mas para quem havia de ser?! – por ter alocado 5% dos fundos destinados às regiões autónomas às agendas mobilizadoras. É preciso ter lata!

Não satisfeito, justifica a não divulgação pelo Governo Regional junto dos empresários com o facto de que tal constituiria desinformação, revelando uma enorme desconsideração e desprezo pelos empresários açorianos. Nas suas palavras, estes não teriam capacidade para distinguir a natureza das agendas do sistema de incentivos. Nada que me admire depois de tudo o que tive oportunidade de ouvir relativamente à relação dos empresários com o Governo Regional, ao longo da campanha para as eleições legislativas nacionais.

A inquirição de Jorge Lourenço, da KPMG foi muito elucidativa da forma como tudo se passou. Transcrevo as suas declarações: “Relativamente à definição de com quem é que falávamos, isso era uma atribuição, no contexto do projeto, das Câmaras de Comércio que, para cada caso, nos apresentavam, normalmente no início do dia ou no dia anterior, uma lista de reuniões dizendo «vão reunir com a entidade a,b,c,d,e»”. “Quem estabeleceu, digamos, no fundo, a agenda de reuniões que nós tivemos para a elaboração das agendas, foram as Câmaras de Comércio, por indicação do Governo Regional”. Acrescentou, ainda, o inquirido que “a Câmara de Comércio de Ponta Delgada desde cedo mostrou disponibilidade para liderar o consórcio do turismo. Feita a avaliação técnica se isso era possível, aquilo que nós transmitimos foi que acreditávamos que isso não era possível ou, pelo menos, introduziria um risco relativamente à candidatura e, portanto, a sugestão que nos foi feita foi «se é preciso que isto seja feito com uma CAE específica, de uma entidade empresarial, então nós temos a possibilidade de apresentar esta candidatura usando a entidade Profeiras como líder do consórcio»”.

O contrato celebrado com as consultoras abrangidas passava também pela identificação do consórcio e das empresas que o constituiriam. Ou seja, ao invés de as Câmaras de Comércio assegurarem uma divulgação e acesso a apoio técnico (pelas consultoras), em situação de igualdade, a todos os empresários dos sectores passíveis de serem abrangidos, temos, segundo o inquirido e no caso de Ponta Delgada, a escolha das empresas que devem ser contactadas e a sua Câmara de Comércio a querer liderar o consórcio do turismo através da Profeiras. Ainda há muitas explicações para dar. Aguardemos.