Opinião

Os Estados-nação contra um Estado-nação

No mesmo mês em que há dois anos Portugal registava o primeiro caso da COVID-19, a Rússia ataca o território soberano da Ucrânia.

Em 1918 foi a gripe espanhola a par com o fim da I guerra mundial e cerca de duas décadas depois iniciava-se a II guerra mundial.

A história parece repetir-se, esperando que não se reescreva.

Passado quase um século sobre a expansão do território da ex-URSS e outros tantos anos sobre o fim da II guerra mundial e a independência da Ucrânia, é, se não nos entrasse nas nossas casas todos os dias pela rádio e televisão, inacreditável o horror que milhares ucranianos estão a viver em território europeu.

Hoje a realidade é bem diferente da que se viveu no século passado e até em 2014 (invasão da Crimeia por parte da Rússia) – onde “o ruído” disfarçado perpetuou na UE, na NATO e na ONU – cerca de 8 anos após essa invasão, território que foi uma das portas de entrada à invasão na Ucrânia.

Hoje a guerra iniciada pela Rússia é hiper-conectada ao nível tecnológico e da cidadania – esta conexão tem sido usada por todos para tentar ganhos diplomáticos, influenciar a opinião pública, desmoralizar o adversário e posições de cidadania.

É difícil prever o quando e o como do fecho da situação que a Ucrânia vive. É imediato, porém, as consequências para a Europa desta guerra.

Quanto mais tempo perdurar, mais consequências humanas, económicas e financeiras teremos.

Hoje os cidadãos europeus posicionam-se de forma imediata, em parte por estarmos na presença de uma guerra hiperconectada, onde a tecnologia espacial assume um útil e importante papel, e a opinião pública, o desporto, o sistema bancário, as relações económico-financeiras, e as redes digitais são armas não militares, mas eficazes.

A reunião ocorrida no dia 28 fevereiro, entre representantes Russos e Ucranianos, foi uma pausa, não para procurar a paz, pois as condições impostas pela Rússia a um país soberano são inaceitáveis, “o reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia, o fim da desmilitarização do Estado ucraniano e a garantia do seu status neutro”, sendo risível e irónica a imposição de ”desnazificação do Estado ucraniano”, mas sim porque fora falhado o primeiro assalto a Kiev nos primeiros cinco dias de guerra. E, era preciso tempo para reorganizar o ataque russo.

Putin, é uma ameaça ao mundo e, pelo que nos é transmitido, está disponível a utilizar todos os recursos ao seu dispor, táticas bárbaras e indiscriminadas, e não desde 24 de fevereiro de 2022, mas desde sempre. Nos últimos tempos, a Rússia tornou-se membro da ONU e integrou os G-7 (G-8) (a 24 de março de 2014 os G7 excluíram a Rússia, após ataque à Crimeia). De certa forma, temos sido tolerantes.

O grande valor da UE, a tolerância, mas com tiranos antidemocráticos, a tolerância não é um valor, é um erro.

As posições políticas de partidos de extrema esquerda e de extrema direita a apoiar ou silenciar-se perante a invasão da Rússia são inaceitáveis e não devem ser relevadas num país democrático, como é Portugal.

Após a Ucrânia, imaginando o inaceitável sucesso da Rússia, seguir-se-á Polónia, Eslováquia, Hungria,.., isto porque todos estes países são países NATO e com fronteira com a Ucrânia.

O argumento da invasão à Ucrânia será replicado, reescrevendo a história, nomeadamente, que a NATO retire as suas forças para as posições de 1997. Neutralizar a Rússia a todos os níveis é a resposta, por parte dos Estados-nação (é, infelizmente, conhecida a neutralidade de uns, por esperar ganhos financeiros e económicas, como por exemplo, fornecimento de energia à Índia e China).