Opinião

Alterações? sim. Autoritarismo? não,

Em Ponta Delgada, no centro histórico, ensaiou-se o encerramento de várias ruas durante o período festivo – boa medida! Em várias cidades da Europa, os centros são espaços de convívio e de contemplação, que potenciam a visitação e o consumo no comércio, não durante uma época festiva, mas de forma duradoura e englobados no conceito de uma cidade próxima e amiga do cidadão.

A diferença entre os exemplos das cidades da Europa e os de Ponta Delgada, não está nas alterações, mas sim no autoritarismo que negligencia o diálogo e o consenso.

 

E a palavra dada?

Servirá de pouco recordar as promessas eleitorais do hoje presidente da câmara, em fomentar o diálogo, com as câmaras do comércio, com as ordens, enfim com meio mundo, todos aqueles que hoje passaram a estar bloqueados ao diálogo.

Servirá de pouco recordar o compromisso do presidente da câmara em implementar o encerramento de ruas apenas na quadra natalícia, recusando ocorrer noutro período.

 

Faz o que digo, mas não faças o que eu faço!

Um dos erros da gestão camarária é a frase: “É preciso adaptar o comércio aos novos estilos de vida”, de um social democrata, teoricamente entusiasta do privado, que parece pretender interferir na forma como o privado se organiza, se apresenta e comercializa.

Caberá sim à cidade se adaptar aos novos estilos de vida. Como? através de um planeamento urbano, preocupado com o social, no equilibro com o económico e ecológico. A título de exemplo, que hajam respostas, antes do fecho permanente de ruas, tais como: o recurso a uma linha de minibus dedicada ao centro histórico com ligações aos diferentes parques de estacionamento públicos e à existência de zonas verdes generosas; uma estratégia concertada com o comércio; privilegiar o encerramento de ruas próximas de património arquitetónico para garantir a sua preservação.

O encerramento deverá ser progressivo no tempo, dando tempo à habituação das pessoas e dos negócios, garantindo um ecossistema numa cidade limpa, com recolha de resíduos e uma avenida Infante D. Henrique virada para o mar com mais pessoas e menos carros e bloqueios visuais. Há tanto para fazer por parte da gestão pública, isto muito antes desta exigir aos privados. Agora, claro, é mais fácil exigir fora de portas do que dentro de portas.

 

Alterações? sim.

Autoritarismo? não,

As alterações que se pretendem produzir numa cidade devem sempre ser vistas como um plano comum e estratégico onde todos contam e a responsabilidade é partilhada. Nunca enjaular a cidade com decisões autoritárias e sem fundamento estratégico urbano.

P.S. A rua de Santa Luzia deveria ser encerrada. O exemplo deve vir de cima, com certeza que não custará ao presidente de câmara e vereadores andarem uns metros até à sede do concelho.