Opinião

A "agroficção" do Sr. Secretário da Agricultura

A agricultura açoriana está confrontada com um conjunto de problemas emergentes que condicionam muito a actividade dos produtores.
O custo das rações está a subir, os adubos, em alguns casos, subiram de preço no último ano cerca de 80%, o gasóleo agrícola subiu cerca de 45%, verificam-se prazos cada vez mais alargados para entrega de mercadorias, situações que agravam o ainda existente desequilíbrio endémico no preço do leite pago ao produtor.
Fruto dessa situação, os agricultores foram para a rua, numa manifestação pacífica, alertando para os problemas do sector e para as preocupações sobre o futuro.
O cenário é preocupante e exigem-se respostas claras e eficazes para amenizar os impactos desta realidade na vida quotidiana dos agricultores açorianos, cuja actividade é fundamental para a robustez de um dos mais importantes sectores económicos da nossa Região.
No entanto, as respostas que se esperavam por parte do Governo Regional neste âmbito não são as melhores.
Obviamente que não culpamos o Governo Regional pela subida galopante dos preços das matérias primas, dos custos de contexto da actividade agrícola ou do preço do leite pago ao produtor, mas seria fundamental que, com base nesta realidade, o Governo desenvolvesse um pacote de medidas de apoio e de amenização do impacto desta situação na actividade agrícola.
Infelizmente, tal não acontece. 
No Plano de Investimentos e Orçamento para 2022 verifica-se um desinvestimento no sector.
As acções do Plano de Investimentos que poderiam ser utilizadas para mitigar estes impactos e apoiar a actividade agrícola sofrem reduções significativas.
Por exemplo a acção referente ao Abastecimento de Água, caminhos e eletrificação agrícola tem uma redução de 2 Milhões de euros; As medidas de apoio às produções locais têm uma redução de 3,4 Milhões de euros; A Dinamização dos mercados tem uma redução de 1,2 Milhões de euros; A Inovação e qualificação da indústria agroalimentar tem uma redução de 5,6 Milhões de euros; A acção Agroambiente, clima e agricultura biológica tem uma redução de 1,8 Milhões de euros;
Ou seja, as acções que materializam investimento público que, nesta fase difícil, poderiam ajudar a colmatar os impactos negativos da situação externa sofrem todas grandes reduções, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos e ao contrário do que o Sr. Secretário da Agricultura está sempre a anunciar.
O Sr. Secretário da Agricultura é um homem que conhece o sector. É também empresário agrícola o que lhe permite uma visão alargada, quer da parte de quem promove as políticas públicas, quer da parte de quem usufrui dos apoios públicos.
Infelizmente, passado um ano de funções, essa visão e conhecimento não tem sido uma mais valia para o sector.
Há muita "Agroficção" e pouca Agrorealidade.
A ânsia de criticar o Governo anterior ou o Governo da República e a obsessão propagandística de fazer muitos anúncios, que são inconsequentes e que não se concretizam, está a desfocar a Secretaria da Agricultura dos reais problemas do sector, não tendo a capacidade e o peso político necessários para se impor junto do Secretário das Finanças, impedindo que haja cortes nas políticas públicas de apoio à agricultura açoriana numa altura difícil como esta.
Dado o cenário actual, será importante que o Sr. Secretário da Agricultura não fale só com os seus amigos e companheiros agricultores e fale com todos, sem sectarismos ou perseguições, percebendo verdadeiramente o presente do sector, para melhor preparar o futuro.
Os Agricultores saíram à rua. É preciso saber ouvi-los, percebê-los e arranjar soluções.