Opinião

Os deslumbres de um Presidente ofuscado

" Aos amigos os favores, aos inimigos a lei" (Maquiavel, 1513).

Para a hidra Açoriana - governativa criatura com meia dúzia de cabeças - o assalto ao poder autárquico tem claramente a velha tática do mais delicado bárbaro de todos: o vale tudo menos arrancar olhos. É que não bastando que o Governo da Região Autónoma dos Açores, no lugar de se dedicar àquilo que é da sua obrigação e competência, ou seja, à governação, se entretenha, afinal e exclusivamente, às campanhas partidárias das autárquicas (e de propósito não disse para aquilo que terá sido eleito, tão simplesmente, porque para tal não foi eleito), não bastando isso, dizia eu, como agora perdeu-se de vez toda a vergonha. É chocante a promiscuidade desavergonhada a que assistimos entre as mais nobres funções de governança e o parcial apoio aos candidatos das suas cores partidárias. Que os candidatos da direita se pretendam colar as essas mais poderosas promessas, já bem nós todos o esperávamos, confundindo propositadamente os seus projetos autárquicos com as eventuais futuras ações do Governo. Mas que esse mesmo Governo também o ande fazendo, então aí, vão me desculpar, mas quebraram-se mesmo os mais aceitáveis limites da compreensão. Não pode ser. Sabemos bem que, quem governa, terá também o democrático e legítimo direito de manifestar o seu apoio a determinado candidato. Nada a apontar, natural e humano. Não o fazer seria até hipócrita, penso eu assim. Mas inadmissível, totalmente inadmissível, é o que fazem. E o que efetivamente fazem é baralhar isto com o uso e abuso da posição de poder governativo para empurrar os seus mais queridos e favoritos. É então mesmo normal os mais variados membros do Governo se desmultiplicarem, diariamente, por afirmações que claramente têm por intenção o subentendimento de que, caso determinado candidato vença a corrida à Câmara x, o Governo abrirá então os cordõezinhos à bolsa dos dinheiros públicos e avançará, sem quaisquer hesitações, para o fantástico investimento y? É normal, isto? E depois, a tentativa de tapar o sol com a peneira ainda vem a ser feita pelo Sr. Presidente, autoproclamando-se diferente do Partido Socialista porque não ofusca os candidatos aquando dos discursos de manifestação de apoio às candidaturas...! Como?! Excelência, por partes e devagarinho: o senhor é que é o Presidente, está recordado?! O senhor é que, em abono da verdade, anda cegando propositadamente os Açorianos de demagogia como gatos encadeados na estrada e em iminente risco de atropelamento. A naturalidade com que o faz é inquietante, como se nada se passasse de anormal. Vai diariamente confundindo, profundamente, os projetos dos protegidos candidatos com as miríades de promessas concelhias.

Percetível, a qualquer um, o muito discreto piscar de olho ao eleitor. Ofuscantemente discreto. Ofuscante, senhor Presidente, sim senhor, quando simultaneamente, a isto, vai sempre dizendo que todos os candidatos são obviamente iguais após o voto do povo. Mas que bonito, realmente...! Transporta-me imediatamente para o "Triunfo dos Porcos", em que lá muito sabiamente, os ditos cujos animais, acrescentaram ao sétimo e último mandamento do Animalismo de "todos os animais são iguais" o "...,mas alguns são mais iguais do que outros".

E é isto.