Opinião

Delta. What else?

Segundo o mais recente relatório de situação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge relativamente à diversidade genética do vírus SARS-CoV-2, a variante Delta (mais transmissível e mais infeciosa) aumentou em todas as Regiões do nosso País durante o mês de junho, sendo que nos Açores passamos de uma frequência relativa desta variante de 0% para 62,5% entre a primeira e a última semana de junho.
Não obstante, registavam-se à data de ontem 381 casos ativos (com casos em seis das nove ilhas), 12 utentes internados, 34 óbitos, seis cadeias de transmissão local primária (duas no Pico, duas na Terceira, uma nas Flores e uma em São Jorge),predominância de casos nas faixas etárias dos 21-30 e dos 31-40 anos de idade, índice de transmissibilidade de 0,87 na semana passada para 1,18 no dia de ontem.
Neste contexto, há aspetos que são fundamentais e sobre os quais se deveria incidir a atenção:
a) Reforço do controlo da transmissão;
b) Reforço da Vacinação;
c) Clareza e coerência da Comunicação.
No que concerne ao reforço e controlo da transmissão, neste momento, a eficácia das medidas restritivas que têm sido implementadas pelo Governo Regional é reduzida, tendo em conta o elevado grau de cansaço e de exaustão da população, nomeadamente, na ilha de S. Miguel.
O sistema semafórico é errático.
As medidas implementadas são ineficazes como o comprovam os números diários de novos casos detetados.
As medidas em vigor e definidas na atual matriz de risco necessitam de ser revistas para além de ser necessário dar novo enfase no reforço da capacidade de testagem e de identificação de contactos com casos positivos com vista a quebrar cadeias de transmissão, não prescindindo do cumprimento das regras de etiqueta respiratória, desinfeção das mãos, distanciamento físico e evitando ajuntamentos.
A informação sobre as cadeias de transmissão existentes na ilha de São Miguel deve ser apurada e tornada pública, para melhor compreensão de todos da situação vivida.
A metodologia RT-PCR deve ser a preferencial relativamente às restantes, sendo que já deveria ter sido elaborada e comunicada a estratégia, bem como o plano para a utilização dos 250 mil testes de antigénio cuja aquisição foi recomendada pela Assembleia Legislativa Regional, bem como os testes de saliva adquiridos pelo Governo Regional.
Já no que concerne à vacinação, questiona-se o número exato de vacinas atualmente disponível na Região, considerando os diferentes fabricantes e, dos grupos prioritários definidos no Plano Regional de Vacinação, qual o ponto de situação da vacinação dos mesmos, atendendo a que a única informação que é pública é a existente numa tabela disponibilizada na página do Governo Regional referente a 1ªs e 2ªs doses, datada de oito de julho.
Se tivermos em consideração que, com a variante Delta, o atingimento da imunidade de grupo poder-se-á não se fazer nos 70%, mas sim com valores muito perto dos 85% de população imunizada, a disponibilização da informação permitiria definir um plano de intervenção relativamente à vacinação mais adequado, focalizado, que congregue profissionais e cidadãos em metas claras e inequívocas no que concerne a um processo sobre o qual todos sabemos existirem e persistirem várias dúvidas.
Não obstante, o conhecimento de registo de casos em território continental de uma nova variante - denominada Lambda - justificam uma atenção acrescida e uma estratégia e planificação necessária do outono/ inverno.
Por último, no que concerne à comunicação esta assume, nesta situação, uma importância que tem sido menosprezada, gerando ou agravando um sentimento de insegurança, de incompreensão e de desnorte.
Os últimos dias foram, novamente, pródigos em contradições.
Por um lado, a imunidade de grupo já não seria atingida no final deste mês, atendendo a que iria ocorrer uma diminuição do ritmo de vacinação, por via de uma suposta redução do número de vacinas que afinal não existiu, existindo sim, um reforço.
Nesta trapalhada, contradisseram-se o Presidente do Governo Regional, o Secretário Regional da Saúde e Desporto, o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia por Covid-19, o Dr. Mário Fortuna, o Coordenador Logístico para o processo de vacinação nos Açores...
Por outro, após a vacinação de 70% da população, na passada quinta-feira, o Secretário Regional da Saúde e Desporto assumiu o levantamento de restrições em Santa Maria, em São Jorge, na Graciosa e no Pico, bem como a possibilidade de público (com limitação de lotação) em qualquer concelho, independentemente do nível de risco em eventos públicos culturais ou desportivos, a par da possibilidade de realização de casamentos e batizados em São Miguel mediante a realização de testes, com a responsabilidade a recair sobre organizadores e cidadãos. No fim de semana o Presidente da Comissão veio dizer que convívios festivos e familiares promoveram o aumento de novos casos registados nos últimos dias e que poderemos assistir ao aumento de internados e mesmo voltar a ter óbitos sendo, por isso, essencial que a população ajude o Governo...
Não se compreende.
A negligência na ação, conforme se verificou em dezembro e janeiro, tem de servir de aprendizagem no presente para o futuro.
O rigor, a transparência, a verdade e a humildade democrática devem nortear todas as intervenções, com vista a conseguir a necessária congregação de esforços para enfrentar esta crise sanitária.
Delta. What else? Tudo.