Opinião

Tudo pelas aparências

"Fogo pró ar" diz o povo em dia de festa.
Assim vivemos nós. Parece que estamos em festa. A casa tem a fachada pintada. Os sapatos estão a brilhar. Mas a verdade verdadeira é que o teto mete água e a sola está esburacada.
Os sinais, esses, uns são mais subtis, outros são mais evidentes. Uns estão escritos, outros correm em surdina mas, a cada dia que passa, torna-se mais evidente o desconforto de uns com o protagonismo de outros.
Quais formiguinhas laboriosas, o exército põe mãos à obra. O que interessa é habilidosamente retirar de cena quem se gastou em pouco tempo, ecolocar em cena, a sorrir e acenar, velhos novos rostos. Recolocar as peças no tabuleiro. Calibrar aparições. Anunciar as sete maravilhas. Proclamar a boa-nova. De tal forma que quase, mesmo quase, juramos ter avistado a borboleta branca mas, ora hoje um, ora ontem outro, fazem dueto, oleando espingardas e arejando fardas bafientas, quais saracuras-do-mato chamando a chuva.
E não é que lá por detrás desta encenação vive um povo? Um povo que gosta dos foguetes e do sol da primavera, mas que não se deixa iludir. Um povo atento aos pormenores. Um povo exigente. Um povo que não vai em cantigas. Um povo que sabe que o Carnaval é só uma vez por ano e que fora do Carnaval há coisas que não têm graça.
E de facto não tem graça anunciar a aprovação das orgânicas dos departamentos do Governo a 1 de abril e passados dois meses serem ainda desconhecidas. Imagino que alguns estejam agora a pensar que interesse tem isso das orgânicas? Pois, tem muito. Não podemos ignorar que este XIII Governo Regional, ao contrário do prometido, aumentou significativamente os cargos de nomeação política na estrutura do Governo e que anunciou, posteriormente, que esse aumento de custos seria compensado pela redução dos dirigentes intermédios da administração pública, preenchidos por concurso público.
Nessa data, o Presidente do Governo anunciou, após a reunião do Conselho de Governo, a aprovação das orgânicas dos Departamentos do XIII Governo Regional, dos quais resultariam uma poupança superior a meio milhão de euros este ano e mais de dois milhões de euros na legislatura. Até hoje nada. Ou melhor, até hoje o que temos é um aumento anual de custos com cargos de nomeação política superior a dois milhões de euros.
Também não tem graça nenhuma, saber, pelo jornal e pelos próprios, que os Artesãos Açorianos estão pela primeira vez privados de participar na Feira Internacional de Artesanato em Lisboa porque o Governo dos Açores não abriu as candidaturas ao SIDART (Sistema de Incentivos para o Desenvolvimento do Artesanato dos Açores). Então afinal de que vale apregoar e aprovar Orçamento e Plano com supostos Apoios Desenvolvimento das Empresas Artesanais? Ou de que vale apresentar resoluções a dizer que estamos muito preocupados com os impactos da pandemia nesta atividade, quando na verdade impedimos por inação a participação destes profissionais em eventos com esta dimensão e importância comercial?
E agora, em jeito de conclusão, foi com agrado que ouvi num dos noticiários desta manhã que terminou o inquérito à invasão do Capitólio nos EUA, situação ocorrida em janeiro deste ano. Com certeza um processo mais simples do que o inquérito anunciado pelo Governo dos Açores, na mesma altura, ao processo de vacinação nas IPSS. Sim, porque deste último, ouvimos dizer que era já para a semana ... acontece que ouvimos isso há, mais ou menos, 5 semanas...
E como já diziam os antigos: quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele.