Opinião

Operações sem tato

I - Operação “Periferia”
Nada tenho contra a acelerada operação de vacinação em curso, a qual aliás saúdo vivamente. A minha questão é, apenas e só, com o nome. Não gosto! Desconheço quem “batizou” a operação. Mas isso é um mero pormenor. Independentemente de o nome ter surgido cá ou lá, houve uma claríssima falta de tato. O nome, ao contrário do autor, não é um mero pormenor. O nome devia unir e não dividir. Ainda há dias, quase de forma unânime, os intervenientes na cerimónia evocativa do “Dia dos Açores” salientaram a necessidade de se pôr termo a todo o tipo de bairrismos que ainda existem nos Açores. Ora, apelidar de periferia uma operação de vacinação prevista para 5 ilhas não é um bom contributo para a tal missão de erradicar os desnecessários e bacocos bairrismos entre ilhas. Este título tem subjacente uma visão que julgava, talvez erradamente, já estar ultrapassada. Afinal, continuamos (?) a não conseguir descolar da visão “distritivista” da Região. Há três ilhas principais ou centrais e depois as outras, as periféricas? Não percebo como se deixou passar este nome. Ainda para mais quando o Presidente Bolieiro, no citado “Dia dos Açores”, referiu e cito: “Já houve tempos em que fomos esquecidos. Éramos as ilhas adjacentes. Mas a democracia e a nossa autonomia política recentraram os Açores no quadro de um país livre. A nossa autonomia política foi a resposta a quem nos esquecia e é a garantia de que nenhuma das nossas ilhas será esquecida. Podendo e devendo ter evoluções, a autonomia é a resposta definitiva para os açorianos. A autonomia pode ter avanços, não pode é ter recuos.” Pois bem, Sr. Presidente, o discurso foi bonito, mas a prática demonstra que as outrora “ilhas adjacentes” que foram (e bem) criticadas deram agora lugar a “ilhas periféricas”. A vacinação em curso é uma prova de solidariedade, a qual não rima com “periferia”. Os Açores são um todo. E o todo não tem periferia!

II - Operação “Fénix PPD”
Reza a lenda que “Fénix” era uma bela ave que possuía uma força extraordinária e podia viver quinhentos anos. As suas penas eram vermelhas, enquanto o bico, a cauda e as garras eram douradas. As lágrimas desta ave podiam curar qualquer doença, possuía um lindo canto e ao final da vida entoava uma melodia triste. Após isto, queimava-se, voltava a ressurgir e as cinzas que sobravam deste processo tinham a propriedade de ressuscitar os mortos. Ainda continuando na lenda, a Fénix simboliza, portanto, o renascimento, o triunfo da vida sobre a morte, o eterno recomeçar, porém sem perder a essência: a ave é sempre a mesma. Lembrei-me desta lenda a propósito do surgimento, nos tempos mais recentes, de figuras políticas proeminentes do “velho PPD”. Alguns politólogos, claramente precipitados, tinham já feito o funeral a essa ala “musculada” do PSD. Provavelmente terão julgado que a longa travessia do deserto teria arrumado essa fação. Nada mais errado. O PSD é um partido de poder. O PPD é um partido de poder… absoluto. É isso que nos diz a história.  As entrevistas de Mota Amaral e Costa Neves demonstram a essência do partido. Só do “velho”? O canto que ecoa por aí parece é que não é do agrado Real. Aguardemos pelos próximos capítulos…