Opinião

Segurança! Regularidade! Preço!

Nos Açores, por razões óbvias, falar de transporte é um assunto da máxima relevância. Seja de pessoas ou mercadorias. Seja terrestre, aéreo ou marítimo. A geografia e a periferia, decorrente sobretudo da condição insular, assim o impõe, face a constrangimentos nas acessibilidades que suscitam a necessidade de uma rede de transportes eficaz, enquanto condição essencial para o desenvolvimento de oportunidades socioeconómicas.

À escala global estima-se que mais de 70% das mercadorias utilizadas (qualquer que seja o seu contexto), são transportadas por mar. O transporte Marítimo de Mercadorias está em reestruturação permanente, enquanto base do processo de globalização, oferecendo, por um preço acessível, a movimentação regular e segura de mercadorias entre continentes, países e regiões.

Recentemente o transporte marítimo de mercadoria tem sido alvo de abordagem por diferentes intervenientes, no contexto da Região Autónoma dos Açores. Infelizmente, sem uma visão integrada, na análise das variáveis em presença, tendo como resultado visível a inconsequência de posições que mais não fazem do que “esticar a manta para tapar os pés, deixando a cabeça de fora”.

Com o presente artigo propomos a reflexão sobre três variáveis, consideradas fundamentais, para qualquer reflexão sobre um sistema (ou modelo) de transporte de mercadorias de e para os Açores ou mesmo dentro dos Açores.

A SEGURANÇA, é fator crítico para a confiança num serviço de transporte. Garantir que determinada mercadoria chegue ao destino pretendido, com o mínimo de intermediários, exatamente nas condições previstas, é fundamental para qualquer atividade ou negócio que dependa da atividade de transporte. A utilização do contentor, sempre que tal seja possível, é a forma “standard” de assegurar a proteção e inviolabilidade da mercadoria ao longo do processo de transporte. Qualquer proposta que desvalorize os riscos decorrentes de uma eventual desconsolidação de mercadorias, para uma distribuição posterior, é simplesmente inaceitável, nos dias de hoje, para o transporte marítimo de mercadorias nos Açores. Trata-se de uma evidência para “todos” os empresários.

A REGULARIDADE (ou fiabilidade), enquanto fator essencial para um transporte de mercadorias de qualidade. Assegurar que determinada mercadoria chega ao destino, no momento previsto para essa chegada, é condição essencial para a operação de qualquer atividade ou negócio. Referimo-nos não só aos constrangimentos associados a eventuais atrasos, mas também aos custos decorrentes da gestão de stocks, que como sabemos são desde já muito elevados, ou mesmo, às necessidades de determinado tipo de mercadorias, que poderão (ou não) ser transportadas, onde a regularidade é fundamental para o sucesso potencial do seu transporte.

Finalmente o PREÇO, considerando, por um lado o custo do transporte propriamente dito decorrente da ação do transportador, por outro, os custos portuários indispensáveis a esse mesmo transporte (mesmo considerando que nos Açores esses custos sejam geridos pela mesma empresa – a Portos dos Açores) e ainda, os custos dos transitários que asseguram a relação com o solicitador desse mesmo transporte. É óbvio, que o preço do transporte influencia o valor final das mercadorias transportadas, traduzindo impactos comerciais, ao consumidor, e traduzindo (des)igualdades para cada realidade sócio-económica considerada. Ainda sobre o preço de transporte, importa analisar a origem das mercadorias (dentro ou fora da região), logo com influência decisiva nas condições de realização do designado “mercado interno”.

Com o presente texto, não pretendemos propor ou defender qualquer modelo de transporte marítimo de mercadorias de, ou para, os Açores, ou mesmo na Região. Sugere-se sim uma reflexão sobre o assunto, isenta de “estados de alma” ou de interesses particulares. Parece, desde já evidente, que não há espaço para experimentalismos desajustados da realidade. Há um histórico e uma experiência que não podem ser ignorados. O transporte marítimo de mercadorias nos Açores, para os Açores, e dos Açores, deverá ser consensual face à(s) sensibilidade(s) e realidade(s) decorrente(s) da sua aplicação.

E, três variáveis têm obrigatoriamente de ser consideradas para qualquer reflexão séria, que se pretenda fazer, sobre esta matéria - 1º) SEGURANÇA, 2º) REGULARIDADE e 3º) PREÇO, exatamente por esta ordem de prioridade. A bem dos Açores!