Opinião

O poder do dinheiro

No passado dia 13 de maio foi anunciado, oficialmente, que o Estádio do Dragão seria o palco da final da liga dos campeões que se realizará no dia 29 de maio. O Porto e o Estádio do Dragão vão, assim, acolher a terceira final de uma Liga dos Campeões em Portugal e a segunda consecutiva, já que há pouco menos de um ano, precisamente por causa da crise mundial de saúde pública, a UEFA optou por realizar uma “final a oito” em Lisboa, nos Estádios da Luz e de Alvalade. Em campo estarão, como sabem os mais atentos ao fenómeno desportivo, o Chelsea e o Manchester City. A origem dos finalistas levou a UEFA a ser forçada a alterar o estádio previamente definido para a grande final. Istambul era a cidade que há muito se preparava para receber o jogo mais mediático do ano. Mas, devido à força do país dos clubes finalistas e dos interesses financeiros na organização a cargo da UEFA, teve de optar-se por um plano b. E isto porquê? Por duas razões. A saber: A Turquia encontra-se na “lista vermelha” do governo britânico por causa da pandemia que assola o mundo desde março de 2020; e a UEFA quer adeptos no estádio! E assim se lembraram de Portugal. Aleksander Ceferin, Presidente da UEFA, referiu o seguinte: “Tivemos novamente de virar-nos para os nossos amigos em Portugal para ajudarem a UEFA e a Liga dos Campeões, e estou agradecido à FPF e ao Governo português por aceitarem organizar o jogo com tão pouco tempo de aviso. Trabalharam de forma incansável para encontrar soluções (...) Sempre que encontraram um obstáculo, foram criativos nas soluções apresentadas.” Estas palavras foram secundadas, quase de imediato, por Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, que referiu (e cito): “A cidade do Porto acolhe com honra e entusiasmo a final da Liga dos Campeões que aqui se irá realizar no Estádio do Dragão. Desta vez já com público. Queria agradecer, em nome dos portuenses, naturalmente à Federação Portuguesa de Futebol, à UEFA e ao Governo português, que se empenharam nesta realização que é muito importante para a retoma da atividade na cidade”. Todo este processo configura um exemplo, mais um (!), do poder do dinheiro. Desta vez aparentemente no futebol. Mas este jogo está muito longe de ser apenas um jogo de futebol. Está em causa política ao mais alto nível. A “transferência de palco”, da Turquia para Portugal, não é motivo de regozijo. Não devia ser. Mais uma vez, onde muitos veem reconhecimento à capacidade de organização de megaeventos por parte de Portugal, eu vislumbro pequenez e muita desfaçatez por parte dos decisores públicos. Portugal, mais uma vez, é um brinquedo nas mãos dos poderosos. A hora era para dizer “não, obrigado!” Em vez disso, esquecendo por completo as limitações impostas ao desporto e a toda a sociedade portuguesa há mais de 1 ano, li elogios das mais altas patentes a este “regime de exceção” criado a pedido de poderosos e a troco de uns milhões que serão deixados no país pelos adeptos ingleses que se deslocarão ao Porto. No estádio estarão mais de 12 mil espetadores (6 mil bilhetes para cada clube) e, garantidamente, muitos outros milhares estarão nesse fim de semana na cidade invicta. A grande maioria não estará vacinada; não haverá qualquer tipo de distanciamento; muitos não usarão sequer máscara… Mas isso, durante um par de dias, é capaz de não interessar nada. Tragam é dinheiro!! A cerveja estará sempre fresquinha… Lamentável!