Opinião

Crime e castigo

Os brandos costumes sempre foram penalizáveis, mesmo que por vezes haja algum bom senso, ou até sabedoria, que é sempre maior que algum saber.

O Sr. Presidente do Governo dos Açores, baniu-os nesta pandemia. O lema é antes sermos exagerados na prevenção do que negligentes na ação.

O que ficou por definir foram até onde iriam os limites do exagero preventivo e o das negligências na ação.

Quando o senso comum, não é comum, nada pior do que os exageros

Chegados a este ponto em que temos mais epidemiologismo do que epidemiologia, tenho que citar o epidemiologista George E. P. Box, que logo no início do que chamo o panicar da política em Saúde Pública, afirmou que “All models are wrong, but some are useful”; que traduzindo diz-nos que todos os modelos estão errados, mas que alguns são úteis.

O que se está a passar com a vacinação nesta fase em que os grupos de maior risco e oportunidade estão vacinados; e convém ter sempre presente que o oportuno, não está associado a maior risco, mas a outro conceito de proteção para minimizar os danos colaterais da pandemia, como por exemplo a inoperacionalidade de serviços ou estruturas essenciais; todo o resto assenta na diversificação ou se quisermos na “pulverização” da vacinação, obtendo-se mais facilmente o padrão em dominó mais eficaz no controlo da transmissão comunitária, até atingirmos os 70 ou mais por cento de vacinados e o que se denomina imunidade de grupo.

Não faz sentido nenhum vacinar por escalões etários. Quem circula mais, quem mais convive e partilha espaços públicos e quem mais suporta o trabalho nas áreas de produção e serviços essenciais, são os mais e menos jovens.

Seria esclarecedor a publicação diária não só dos números, mas dos escalões etários atingidos.

Não havendo ainda vacinas para todos, o que não é novidade nenhuma, torna-se impossível a vacinação massiva de uma população, modelo desejado, mas inviável.

Também ainda nem sabemos se mais cedo do que se possa pensar teremos que ir aos reforços vacinais.

Castigo por terem sido vacinados prioritária ou oportunamente? Creio que não. Problema das vacinas; talvez.

Mas, não existindo suporte científico para continuar a vacinar prioritariamente por escalões, que se vacine quem quiser ser vacinado, sendo única condição a adequação da vacina aprovada aos critérios clínicos de vacinação; e uma forte campanha de sensibilização.

Nesta fase já não se trata do maior risco, ou do oportuno, mas de equidade não especifica. Vacinar todos os que quiserem torna mais eficaz o efeito barreira que a imunidade de grupo pretende obter com a vacinação aleatória.

Não se percebe que a idade só por si condicione um modelo de vacinação errado; e que só não é inútil, porque ao menos continuam a vacinar.

Os mais jovens, ou os menos jovens continuam impedidos de voluntariamente aderirem à melhor prevenção existente que é a vacina e de contribuírem para erradicação da transmissão comunitária.

Nesta fase, não tem suporte científico, nem ético; e tem efeito desmobilizador sobre os mais jovens.

Afinal nesta estratégia, errada, o combate à pandemia pode esperar pelo contributo dos jovens.

Se não morrem mais, podem esperar, mesmo que disseminem mais.

Não é crime! Mas, ficamos todos de castigo.