Opinião

Tal qual elefantes numa loja de cristais

Entramos no calvário dos indultos e dos salvatérios.
Primeiro acusa-sede rajada enfermeiros, trabalhadores autárquicos, funcionários públicos, idosos, empresários para, logo a seguir, vir dizer que afinal não é bem assim, que são todos, gente boa, trabalhadora e empenhada, e ser mesmo vergonhosamente desmentidos por autarcas, sindicatos e cidadãos que se manifestaram livremente.
Num dia apela-se às comunidades emigradas para ajudarem o Governo a obter mais vacinas, no dia seguinte ficamos a saber que temos tantas vacinas que até precisamos de um especialista em logística para tratar do assunto. Mais um atropelo. Mais uma sobreposição. Mais um atestado de incompetência. Atente-se às competências do Diretor Regional da Saúde, da Autoridade de Saúde Regional, da Comissão Especial, criada para este efeito, e composta por 3 elementos e às do próprio Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores. Já se percebeu que neste domínio as questões resolvem-se com mais inquéritos (com resultados desconhecidos) ou com mais especialistas nos processos.
Não deixa de ser curioso que num dia se assumam falhas no processo para justificar mais uma aquisição (usando a gíria futebolística) e, na semana seguinte, se diga que afinal tudo corre às mil maravilhas, que mais parece um comboio de alta velocidade.
Pelo meio ainda tivemos o caso do oxigénio que falta aos olhos de uns, mas sobeja aos olhos de outros.
O brado foi tanto que se mudaram de armas e bagagens para São Miguel, seguindo a máxima de que não basta ser, é preciso parecer e, neste caso, aparecer. Redobraram-se em reuniões fictícias e em anúncios fajutos. Tudo pela sobrevivência.
Em paralelo, vai-se respondendo a uns requerimentos para entreter e atirar areia para os olhos dos mais incautos. Têm a informação, dizem que a disponibilizam, mas quando instados a fazê-lo afinal não pode ser. As senhoras e os senhores deputados não têm direito a aceder a alegadas informações trocadas entre os Centros de Saúde e as IPSS e assim aferir se houve, ou não houve, orientações claras no processo de vacinação? Quisemos ouvir o Senhor Secretário dos Transportes sobre o concurso do navio para o Corvo e obtivemos como resposta: agora não dá jeito. Tudo a bem da transparência ou da falta dela.
Ficamos a saber também que quanto à anunciada extinção do GACS, afinal muda o nome, mas as competências e a estrutura de pessoal são exatamente as mesmas. Tudo pelas aparências.
Claro que para tentar descentrar o foco daquilo que verdadeiramente interessa, mais uma manobra de diversão enchendo páginas com o custo das administrações das empresas públicas. Quando li, a única coisa que me ocorreu foi a comparação entre o custo da administração de qualquer uma dessas empresas, com o custo da Comissão Especial de Acompanhamento e Combate à Pandemia. Só para dar um exemplo, a administração da Azorina, empresa com mais de 100 trabalhadores e com responsabilidades financeiras, custa menos de metade que a criada Comissão Especial, que não gere pessoal, que não gere recursos financeiros e que já nem sequer gere a vacinação.
E já agora, ouvimos, antes do Plano e Orçamento, anunciar poupanças nas orgânicas dos departamentos, que já haviam sido aprovadas. Passados mais de dois meses, nem orgânicas, nem poupanças. A máquina continua a engordar, seja por via de novas nomeações de especialistas e técnicos especialistas, seja por via de ordenados mais generosos, seja pela atribuição de benesses, como o direito a habitação paga.
De tudo isto se conclui: errar é humano, mas é mais humano para uns do que para outros.