Opinião

Uns caladinhos, outros desavindos e um desaparecido

Assim vai o “estado da arte” no XIII Governo dos Açores e na manta de retalhos parlamentar que o suporta. Estamos em semana de debate e aprovação do Plano e Orçamento para o ano de 2021. O ambiente no hemiciclo e nos bastidores, ainda que disfarçado pelas máscaras, anda estranho. Há Deputados “inchados” no papel de ocasionais atores principais. Deputados que, à boleia de umas dezenas de votos, passeiam pelos corredores das bancadas fazendo valer a sua momentânea importância, a qual, é bom terem consciência, foi dada por quem precisa deles para que a “manta” não fique demasiado curta. Há Deputados remetidos a uma ruidoso silêncio e cujas máscaras quase tapam integralmente os olhos. Maioritariamente, estão estes na bancada do PSD. E percebe-se a razão. Não é fácil o papel que decidiram atribuir a si próprios. Mas, vão ter de se habituar. Ou o carro anda a várias mãos e pés, ou então deixa de andar. Essa foi a opção tomada. Há um Deputado que está a determinados dias da semana. O papel que assinou, provavelmente, consta o regime de “separação de bens políticos”. Isto é, quando se trata de assuntos positivos, temos Iniciativa na fotografia de grupo; se o tema é quente ou mais polémico, a Iniciativa entra de folga dizendo que não existe qualquer compromisso para esta parte. Por último, há os Deputados desavindos e desalinhados. Interna e externamente. Falo, obviamente, do que se passa, há uns meses, no Partido Chega. Os 2 Deputados eleitos por este Partido são imprescindíveis à sustentabilidade da governação. A 5. Ou a 3 dentro… e 2 fora. Independentemente da visão que tenhamos sobre a forma da “manta”, é factual que estão os 5 no mesmo barco. Até podem nem remar todos, como já acontece ao fim de um par de meses de governação, mas o que não pode acontecer é um deles “saltar borda fora”. Por isso, é que assistimos – sem qualquer surpresa – ao desmoronar do Chega e aos demais parceiros a fazerem de conta que nada está a acontecer. Os Deputados do Chega, que formalmente constituem ainda um grupo parlamentar, estão em “clima de guerra aberta”. Nem os olhares já se cruzam. Está cada um para o seu lado. Mas, para os partidos que formam a coligação, o que importa é que apareçam os 2 votos favoráveis imprescindíveis à aprovação do Plano e Orçamento. Essa votação fará com que se esqueçam das críticas do Deputado Carlos Furtado, repetidas no decurso da presente sessão plenária, à dimensão do atual Governo ou do aumento dos cargos de nomeação. Tal como não guardarão qualquer referência à assunção pública, por parte do líder demissionário do Chega, da dificuldade em aprovar este Plano e Orçamento (2021). O que interessa é ter, na hora da votação, 29 votos a favor. Esse número traz associado a negação das evidencias. E que evidencias são essas? É muito simples. Este governo, sustentado por 5 partidos, não é garante de qualquer projeto sólido e duradouro. A navegação será - terá de ser sempre - à vista! E com grande capacidade de fingimento. É preciso dar sempre a ideia que a “casa não está a arder”, mesmo que o odor a fumo seja intenso. Para isso, o melhor mesmo é fazerem como o Presidente do Governo. Onde é que está? É isso mesmo…