Opinião

A entrevista de Vasco Cordeiro

A última entrevista de Vasco Cordeiro à RTP/ Açores reconfirmou o seu estatuto de Presidente. Revelando que sempre teve uma ideia para o futuro dos Açores não se escusou a comentar o passado presente. Na realidade, hoje os Açores vivem com 5 partidos a mandar e ninguém a comandar. É por isso que se sente esta ausência de efeito de força e sentido na governação. A postura de Vasco Cordeiro foi como sempre genuína. Não precisou de repetir até à exaustão nenhuma virtude, como humildade e diálogo, para se entender que procurou consensos no produto da intersubjetividade dos discursos e posições dos restantes partidos, em que se justificava esse esforço. Vasco Cordeiro lembrou bem que o cimento que uniu os 5 partidos não teve nenhum propósito maior para os Açores. Única e simplesmente esteve em causa o poder pelo poder, sem nenhum projeto anunciado pré-eleitoralmente e, sobretudo, sem nenhum desígnio digno para os Açores. Os sinais estão aí. Não havia nenhum paradigma, expressão profusa que envergonha a obra de Thomas Kuhn, nem espírito reformista ou como foi ridiculamente anunciado “transformista” …Vasco Cordeiro foi acutilante ao desnudar as contradições de transparência como sinónimo de opacidade e desgovernamentalização que se vieram a transformar na maior “partidarização e familiarização” da Administração Pública. Fica também clara a grande impreparação de quem não estava a contar com este cenário político. A questão das verbas alocadas ao Programa de Recuperação e Resiliência foi só mais um episódio de um governo apanhado de surpresa porque sobrevive sem liderar. Como bem indicou Vasco Cordeiro, neste tempo já deveria haver um plano específico para a retoma da economia, por exemplo, no setor do turismo. Estando emudecidas as entidades que outrora, semanalmente, reivindicavam tudo, o Governo deveria ser menos gestor de solavancos quotidianos inconsequentes. Vasco Cordeiro deu esta entrevista ocupando o lugar de Presidente do Grupo Parlamentar com a atitude e comportamento de Presidente do Governo. Afinal o lugar que, mais dia menos dia, voltará a ocupar para bem dos Açores!